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Varíola do Macaco e Odontologia: o que se sabe até agora

Desde maio de 2022, o mundo tem acompanhado o aumento atípico dos casos de infecção pela varíola do macaco (monkeypox), saindo das fronteiras da região considerada endêmica, chegando em países como o Brasil.

Ainda que cedo para saber quais serão os impactos dela para o mundo, os últimos 30 meses com a pandemia da COVID-19 deixaram profissionais vigilantes sobre os riscos de outras possíveis epidemias e pandemias.

O mapeamento da doença aponta crescimento dos casos confirmados em diversos países, sendo 98% dos casos registrados fora das regiões onde a doença estava restrita. Mas, como a varíola do macaco impacta a Odontologia? Como o cirurgião-dentista pode estar preparado para estes atendimentos?

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Varíola do Macaco: o que é?

Até um ano atrás, os casos diagnosticados de monkeypox fora do continente africano estavam, na maioria das vezes, relacionados a viagens para regiões endêmicas. No entanto, um recente aumento de diagnóstico em pessoas sem histórico recente de viagens tem despertado a atenção das autoridades.

Transmitida pelo vírus monkeypox (MPXV), a varíola do macaco é considerada uma zoonose viral e pertence ao gênero Orthopoxvirus, mesma família do vírus da varíola comum.

Descoberta em 1958, teve seu primeiro caso identificado em 1970, em uma criança da República Democrática do Congo.

Em 2003, foram diagnosticados os primeiros casos de infecção da varíola do macaco fora do continente africano.

Apesar do nome, sabe-se que os macacos não são transmissores da doença e nem estão no ciclo de transmissão do vírus. Segundo a OMS, a maioria dos animais suscetíveis à doença são roedores, como ratos.

O vírus apresenta sintomas semelhantes à varíola comum, doença erradicada em 1980. Porém, estes sintomas podem ser confundidos com outras patologias, como varicela, varíola e molusco contagioso.

Ainda que conhecida há décadas, pouco ainda se sabe até agora sobre a doença, que antes estava restringida a uma única região geográfica, África Central e Ocidental, e que hoje está presente em 78 países com novos sintomas e características.

A infecção pode durar até 14 dias e sua gravidade varia conforme a condição de saúde do paciente e a via de exposição.  

Transmissão da varíola do macaco

A transmissão da varíola do macaco ocorre através do contato com pacientes diagnosticados e através de materiais ou animais contaminados (sem caso reportado no Brasil até o momento que este texto foi escrito).

O vírus é transmitido através de contato com fluidos corporais, contato com as feridas em pacientes contaminados e do compartilhamento de itens pessoais (roupas, roupas de cama e outros utensílios) contaminados.

Como a transmissão costuma ocorrer através de contato prolongado, profissionais da saúde, familiares e pessoas próximas aos infectados apresentam maior risco de contaminação.

A doença também pode se espalhar através de outras formas, como:

  • Secreções respiratórias durante contato próximo prolongado ou através de contato íntimo;
  • Espirro ou tosse de pessoas infectadas menos de 2 metros de distância;
  • Contato direto com as lesões e feridas da doença;
  • Ingestão de carnes malcozidas;
  • Produtos de origem animal infectados.

Além disso, já foram registrados casos de transmissão vertical (de mãe para o feto) através da placenta e através do parto.

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Manifestações bucais da varíola do macaco

Um dos primeiros sintomas que se manifestam em decorrência da varíola do macaco estão na região de cabeça e pescoço, segundo o Departamento de Saúde de Indiana (Estados Unidos) lesões na cavidade bucal estão presentes em 70% dos casos.

O período de incubação da doença é de 3 a 17 dias; durante este tempo, o paciente não apresenta sintomas e, desta forma, é considerado o período de maior risco, uma vez que o indivíduo já é um transmissor ativo do vírus.

As primeiras manifestações na região de cabeça e pescoço da varíola do macaco são erupções dolorosas e profundas, que geralmente aparecem na face e na cavidade bucal, antes de se espalharem pelo corpo.

Estas lesões bucais, clinicamente, são puntiformes, profundas, bem delimitadas, podendo apresentar superfície ulcerada ou com presença de crosta.  

Antes de formar uma crosta e causar prurido, as lesões desenvolvem-se em quatro estágios: mácula, pápula, vesícula e pústula.

Estas erupções costumam aparecer junto a outros sintomas semelhantes aos já observados em casos de varíola, e que podem ser confundidos com uma gripe ou resfriado, como:

  • Linfadenopatia (quando os nódulos linfáticos ficam com aparência e consistência anormais);
  • Febre;
  • Dor de cabeça;
  • Exaustão;
  • Dores musculares;
  • Sintomas respiratórios (dor de garganta, tosse e congestão nasal).

No entanto, como mencionado anteriormente neste texto, novos sintomas e manifestações estão sendo observados nesta nova fase da epidemia, mesmo sem sintomas sistêmicos, como:

  • Lesões nas genitálias e áreas anorretais;
  • Lesões em áreas delimitadas do corpo do paciente e não mais em todo o corpo;
  • As erupções não aparecem mais nas palmas e plantas dos pés.

Em casos em que o paciente apresente manifestações na região anorretal, ele poderá se queixar de fezes purulentas ou com presença de sangue, dor retal e até sangramento retal.

Antes do diagnóstico da doença, o cirurgião-dentista deve desconsiderar outras patologias (varicela, varíola e molusco contagioso), sífilis, herpes simples ou herpesvírus humano 4 (vírus Epstein-Barr).

Estudos apontam que recém-nascidos, crianças de até 8 anos, imunossuprimidos, gestantes e pessoas com doenças de pele estão mais suscetíveis a desenvolverem sintomas mais graves da doença ou evoluir a óbito. No entanto, na maioria dos casos, a doença não resulta em grandes complicações.

O diagnóstico pode ser feito através do teste de PCR, ou teste do cotonete, feito em laboratório com coleta do material sobre as lesões dérmicas formadas.

Estágios dos enantemas durante a fase de formação de crosta

A duração média dos sintomas é de 14 dias, sendo o período vesicular o de maior risco de transmissão.

O período de duração e estágio podem variar, porém, a maioria dos casos reportados apresentam as seguintes características de acordo com os seguintes estágios:

Estágios dos enantemas durante a fase de formação de crosta da varíola do macaco
Fonte: Informações traduzidas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos

Mesmo após a descamação das feridas, o paciente pode apresentar cicatrizes e áreas mais claras ou mais escuras.

O isolamento do paciente com manifestações ativas deve ser seguido até que todas as lesões pustulosas evoluam para crostas, ou seja, por pelo menos 14 dias desde a manifestação do primeiro sintoma.

O paciente não é mais considerado contagioso quando as crostas descamam e uma nova camada de pele é formada.

Atendimento odontológico a pacientes contaminados pela varíola do macaco

Estudos demonstram que o risco da varíola do macaco para a população é muito baixo, no entanto, a transmissão ocorre através de gotículas respiratórias a curta distância (até 2 metros).

Desta forma, procedimentos que geram aerossol em pacientes infectados, coloca o atendimento odontológico em um cenário de alto risco.

O cirurgião-dentista deve, além de estar atento às manifestações visíveis, fazer uma criteriosa anamnese sobre o histórico do paciente, analisando:

  • Contato com possíveis infectados;
  • Contato com lesões de pacientes não diagnosticados;
  • Viagens para regiões onde há diagnóstico de casos.

Após a anamnese, recomenda-se que o profissional verifique se a cavidade bucal apresenta vermelhidão ou úlceras, e realize a palpação dos linfonodos cervicais/submandibulares no intuito de identificar linfonodos infartados.

Caso o cirurgião-dentista realize o atendimento, deve considerar a gravidade das lesões pelo período que esteve exposto e se o paciente apresentava sintomas respiratórios no momento do contato.

Os pacientes ainda podem ser classificados conforme a potencialidade de transmissão (ver tabela abaixo).

Os pacientes ainda podem ser classificados conforme a potencialidade de transmissão .
Fonte: Governo do Reino Unido

Cuidados para atendimento odontológico de pacientes infectados pela varíola do macaco

No dia 12 de julho de 2022, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos emitiu um alerta para que os profissionais da área da saúde estejam atentos aos pacientes com sintomas iniciais semelhantes a varíola do macaco, não sendo necessário que tenham viajado nos dias anteriores ou que apresentem quaisquer fatores de riscos.

A prática odontológica pode reduzir infecção da varíola do macaco através da conscientização, triagem e controle da infecção.

Além disso, é importante reforçar que a principal forma de prevenção do profissional e equipe é utilizando corretamente os equipamentos de proteção individual (EPI) e higienização correta das mãos.

Como reportar caso de varíola do macaco

Os casos suspeitos de monkeypox devem ser notificados em até 24 horas, através do formulário de notificação Ministério da Saúde, seguido por isolamento imediato do indivíduo até o desaparecimento completo das lesões.

Recomenda-se também que as lesões aparentes sejam cobertas a fim de evitar contato direto de outros pessoas com as gotículas e secreções.

Em caso de dúvidas, acesse o canal aberto pelo Ministério da Saúde para toda a população:

E-mail: ssmonkeypox@saude.gov.br.

Telefone: 0800 644 6645.

Biossegurança no consultório odontológico

Ainda que rara, a infecção humana por varíola do macaco é uma crescente preocupação clínica, por isso, é importante que cirurgiões-dentistas, como agentes de contato direto, estejam preparados para orientar e reconhecer pacientes com possível diagnóstico.

Deve-se também considerar o diagnóstico do monkeypox após descarte de outras possíveis patologias visto que a doença é mais comum, mas não exclusiva, aos pacientes considerados de risco.

A prevenção da transmissão e infecção por contato e trato-respiratório bem como o uso correto dos equipamentos de proteção individuais pela equipe clínica, seguem sendo as medidas mais eficazes para controle da doença.

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Referências bibliográficas

“Dental Practices Can Reduce the Spread of Monkeypox through Awareness, Screening and Infection Control”. CDA, https://www.cda.org/Home/News-and-Events/Newsroom/Article-Details/dental-practices-can-reduce-the-spread-of-monkeypox-through-awareness-screening-and-infection-control. Acessado 22 de agosto de 2022.

“10 Things About Monkeypox”. Southwestern Vermont Health Care, https://svhealthcare.org/COVID-19/DentalHygiene/10-things-about-monkeypox. Acessado 22 de agosto de 2022.

CDC. “Monkeypox in the U.S.” Centers for Disease Control and Prevention, 5 de agosto de 2022, https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/clinicians/clinical-recognition.html. Acessado 23 de agosto de 2022.

“Varíola do Macaco (Monkeypox): o que já sabemos”. Medway, https://www.medway.com.br/conteudos/variola-do-macaco-monkeypox-o-que-ja-sabemos/. Acessado 23 de agosto de 2022.

Peters SM, Hill NB, Halepas S, Oral manifestations of monkeypox: A

report of two cases Journal of Oral and Maxillofacial Surgery (2022), doi: https://doi.org/10.1016/j.joms.2022.07.147. Acessado 23 de agosto de 2022.

GDPUK.com – Monkeypox and dentistry. https://www.gdpuk.com/news/latest-news/4247-the-monkeypox-mystery. Acessado 23 de agosto de 2022.

Indiana Dental Association | Oral Manifestations of Monkeypox Virus. https://indental.org/monkeypox/. Acessado 23 de agosto de 2022.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS). Monkeypox: o que é e quando notificar? Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS; 31 Maio 2022 [atualizado em 15 Ago. 2022, citado em 23 de agosto de 2022]. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/monkeypox-o-que-e-e-quando-notificar/.

JULIANAC. “Fique atento à varíola dos macacos e saiba como se proteger dessa doença”. Portal Institucional do Senado Federal. www12.senado.leg.br, https://www12.senado.leg.br/institucional/sis/noticias-comum/fique-atento-a-monkeypox-e-saiba-como-se-proteger-dessa-doenca. Acessado 23 de agosto de 2022.

“Varíola dos macacos: tudo sobre e alertas para pacientes com câncer”. Revista Online ABRALE, 9 de junho de 2022, https://revista.abrale.org.br/variola-dos-macacos-tudo-sobre-e-alertas-para-pacientes-com-cancer/. Acessado 23 de agosto de 2022.

Texto escrito por Isabelle Buzzi e revisado por Profª Dra. Natália Galvão Garcia (CRO-MG: 56425)


Publicado por
Isabelle Buzzi

Formada em Design Industrial pela UNIVILLE, com especialização pela ESPM. Analista de Produção de Conteúdo, Social Media com foco em conteúdo na área odontológica desde 2015.

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