Cada vez mais, tem sido relatado um conjunto de sequelas da COVID-19 na cavidade oral, as quais tem afetado a qualidade de vida de milhares de pacientes.
A COVID-19 se espalhou exponencialmente por todo o mundo desde sua descoberta na China no final de 2019, sendo em março de 2020 decretada como uma pandemia.
Por se tratar de um vírus responsável por causar a síndrome respiratória aguda grave, as manifestações típicas da doença incluem febre, tosse seca, cefaleia e fadiga.
Ao longo da matéria você irá conferir mais informações sobre a patogenia do SARS-CoVs-2, suas sequelas e as principais manifestações bucais encontradas em pacientes acometidos pela doença.
Patogenia da COVID-19
A COVID-19 é causada por um tipo de vírus da família coronavírus, o SARS-CoVs-2, responsável por causar a chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave.
Por não ser transmitido entre humanos até pouco tempo, o SARS-CoVs-2 ficou conhecido durante a pandemia como “Novo Coronavírus”.
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Ao infectar o organismo, as células de defesa detectam a presença do vírus SARS-CoVs-2 e estimulam a produção de proteínas específicas, as chamadas citocinas.
Estas citocinas são classificadas como pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, as quais possuem diversas funções, dentre elas a geração da resposta imunológica e recrutamento das células imunológicas, importantes no combate ao vírus.
Diante de um desequilíbrio na resposta do organismo, ocorre um excesso de produção de citocinas, a qual tem sido denominada “tempestade de citocinas” ou “tempestade inflamatória”, e mais células imunológicas são recrutadas.
Isso acaba gerando um ciclo vicioso, podendo provocar um combate ao próprio organismo por parte dessas células recrutadas, causando manifestações em diferentes órgãos.
Sequelas Pós Infecção
As sequelas da COVID-19 podem ser de natureza hematológica, cardiológica, neurológica, dermatológica ou psicológica, originando o quadro chamado de Síndrome Pós-covid, conhecida em inglês de Long COVID ou Late COVID.
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Esse conjunto de manifestações tem afetado a qualidade de vida de milhares de indivíduos, pois acredita-se que cerca de 70% das pessoas que tiveram COVID estejam apresentando algum tipo de sequela.
Sintomas
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) os sintomas mais comuns são:
Respiratórios e cardiovasculares:
- falta de ar;
- tosse;
- aperto no peito;
- dor no peito;
- palpitações.
Generalizados:
- fadiga;
- febre;
- dor.
Neurológicos:
- comprometimento cognitivo (perda de concentração ou problemas de memória);
- dores de cabeça;
- distúrbios de sono;
- dormência;
- tontura;
- delirium.
Gastrointestinais (sistema digestivo):
- dor abdominal;
- náusea;
- diarreia;
- anorexia e apetite reduzido;
- perda de peso.
Musculoesqueléticos:
- dor nas articulações;
- dor muscular.
Psicológicos:
- sintomas de depressão;
- sintomas de ansiedade.
Região do ouvido, nariz e garganta:
- zumbido;
- dor de ouvido;
- dor de garganta;
- perda de paladar e/ou olfato (parosmia).
Demais impactos
Além disso, estudos científicos têm sido feitos para analisar o impacto da COVID-19 na função de determinados órgãos do corpo, principalmente em casos de Fibrose – desenvolvimento de tecido cicatricial e disfuncional que torna o órgão mais rígido e afeta sua função.
Há muitos casos de pacientes acometidos pela COVID-19 que desenvolveram, por exemplo, fibrose pulmonar, uma alteração crônica do pulmão, principal órgão associado à doença.
Igualmente, é grande o número de pessoas que apresentam fibrose renal, podendo gerar graves complicações nos rins a longo prazo, ou fibrose miocárdica, que afeta o coração e capacidade respiratória do indivíduo.
Contudo, ainda serão necessários muitos estudos adicionais para confirmar se de fato a COVID-19 é a grande responsável pelo desenvolvimento destas complicações ou se estão associadas a outros fatores.
Sequelas da COVID-19 na cavidade oral
A ocorrência de sequelas da COVID-19 na cavidade oral parece estar sendo subnotificada devido à falta de exame bucal de pacientes com suspeita e/ou confirmação diagnóstica.
Diferentes manifestações bucais têm sido relatadas em pacientes acometidos pela doença, no entanto, ainda há́ dúvida se essas manifestações têm relação direta com a infecção ou se ocorrem em decorrência da associação farmacológica utilizada no tratamento da COVID-19, que pode levar a imunossupressão, xerostomia, infecções oportunistas entre outros efeitos colaterais.
As células da mucosa bucal expressam o receptor de entrada viral enzima conversora de angiotensina II que permite a replicação viral e pode causar inflamação e destruição. Logo, estudos recentes relatam que pacientes com COVID-19 podem apresentar lesões bucais com múltiplos aspectos clínicos.
Na maioria dos casos, em pacientes mais jovens com sintomas leves da doença são observadas lesões aftosas, enquanto em pacientes mais idosos com algum grau de imunossupressão são observadas lesões semelhantes às úlceras herpéticas (Figura 1).
Além dessas, outros tipos de lesões bucais também têm sido relatados, incluindo:
- despapilação da língua;
- queilite angular;
- bolhas;
- lesões semelhantes a eritema multiforme;
- placas brancas;
- pigmentações escuras.
A ocorrência de dor facial, submucosa oral, fibrose, sensação de ardência na boca e xerostomia também podem ser observadas nos pacientes com COVID-19.
Até o momento, os principais locais de aparecimento de lesões bucais descritos na literatura foram: língua, lábio, mucosa e gengiva.
Tratamento
Por se tratar de manifestações bucais que não apresentam um padrão comum, o tratamento é bastante variável.
Neste caso, pode-se considerar o uso medicamentos tópicos ou sistêmicos como corticosteróides, analgésicos, relaxantes musculares, entre outros.
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A Laserterapia é uma forma terapêutica que também tem sido bastante utilizada no tratamento das lesões ulceradas, ardência, xerostomia, despapilação da língua, queilite angular e dores faciais crônicas.
A implementação de ações para a prevenção e tratamento das sequelas decorrentes da Covid-19 é uma tarefa multidisciplinar.
Logo, é fundamental que o cirurgião-dentista faça parte das equipes que realizam o atendimento de rotina desses pacientes, para que se seja realizada uma avaliação minuciosa da cavidade bucal.
Com essa atuação é possível estabelecer o correto diagnóstico e consequentemente o melhor protocolo de acompanhamento, com a adoção de medidas profiláticas e terapêuticas quando necessárias.
Referências:
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