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Como diagnosticar anomalias dentárias?

Como diagnosticar alterações dentárias

Os principais tipos de anomalias dentárias

Anomalias dentárias nada mais são do que alterações na estrutura dentária que interferem no desenvolvimento de um ou mais dentes.

Devido à ausência de sintomas, costumam ser diagnosticadas perante análise de exames radiográficos realizados para outros fins. De tal maneira que cirurgiões-dentistas precisam estar preparamos para identificar e tratar eventuais casos clínicos no consultório.

A seguir, vamos abordar como as anomalias dentárias são classificadas, quais os principais tipos de anomalias e suas opções de tratamento segundo a literatura. 

Classificação das anomalias dentárias

As anomalias dentárias podem ser classificadas como hereditárias, congênitas ou adquiridas

Anomalias hereditárias ocorrem quando fatores etiológicos atuam, causando alterações na diferenciação das células e gerando modificação na estruturação. Neste caso, tais modificações podem ser constatadas antes ou após o nascimento.  

Nas anomalias congênitas, os fatores causais agem na fase de formação intrauterina alterando a composição e/ou função do órgão afetado. Já em casos de anomalias adquiridas, os fatores etiológicos atuam na fase de formação e/ou desenvolvimento pós-natal (FREITAS, et al., 2012). 

Quais os principais tipos de anomalias dentárias?

Na Odontologia, há registro de inúmeros tipos de anomalias dentárias, as quais podem estar relacionadas com a forma, número, tamanho e/ou posição dos dentes. 

A seguir, vamos conferir cada uma delas.

Anomalias de forma

Dilaceração

Trata-se de uma anomalia em que há um desvio ou angulação anormal da raiz ou, menos frequentemente, da coroa dentária (DE PAULA et al., 2015).  

Está associada à fatores traumáticos como: luxação, intrusão e avulsão do dente decíduo, ou a fatores hereditários como: desenvolvimento anormal da raiz devido à presença de dentes supranumerários, cistos ou tumores adjacentes, desenvolvimento ectópico do germe dentário, falta de espaço, anormalidade endócrina, doença óssea, fenda labial e/ou palatina, erupção retardada generalizada, anomalia dental ou tecidual (AZEVEDO et al., 2016; SILVA et al., 2012). 

Tratamento: alguns autores indicam, dependendo do estágio de desenvolvimento do germe, o tracionamento ortodôntico para reposicionamento ou transplantes dentais em crianças na fase de dentição mista. Em casos de dilaceração severa, é indicado que se realize a exodontia, pela impossibilidade de tracionamento ortodôntico (DE PAULA et al., 2015).

Dente conoide 

Dentes pequenos, quando comparados aos normais, que se apresentam em formato de cone – variação de microdontia. Neste caso, há um padrão de herança autossômica dominante que tem sido associado à esta condição genética. 

Tratamento: realizar reanatomização caso haja comprometimento da estética do sorriso (formato inadequado, diastemas) e cause disfunções oclusais como perda da guia incisal e/ou canina, o que gera transtornos funcionais e emocionais. 

Taurodontia

Ocorre devido à uma falha na invaginação da bainha epitelial de Hertwig a nível horizontal. A Taurodontia caracteriza-se pelo deslocamento apical da bifurcação ou trifurcação das raízes, portanto, os dentes apresentam câmara pulpar alongada e canais radiculares curtos (VEIGA, 2012). 

Pode estar associado às condições como a displasia ectodérmica e a síndrome de Down

Tratamento: por si só, não necessita de tratamento. Porém, quando necessário, o tratamento endodôntico pode ser um desafio devido à câmara pulpar ser profunda e a visualização do sistema de canais radiculares ser extremamente difícil (LÓPEZ, 2011).

Dens in dente

Se caracteriza por invaginação do órgão do esmalte na papila dentária, tendo início na coroa e podendo se estender até a raiz, sendo limitada pelo esmalte. 

O aspecto clínico varia de um ligeiro aumento da fosseta do cíngulo a um profundo sulco que se estende ao ápice do dente, podendo afetar dentes homólogos (bilaterais) (NETO et al., 2012), propiciando o surgimento e desenvolvimento de cárie oculta nesses locais.

Tratamento: Indica-se aplicação de selante de fóssulas e fissuras, buscando proteger a invaginação do tecido dentário. Em tecido cariado deve-se lançar mão do tratamento restaurador, analisando a condição pulpar e visando a escolha de um tratamento mais conservador. Há também opção de tratamento endodôntico, que pode ser feito com ou sem apicetomia, associado à obturação retrógrada (RUSCHEL et al., 2011).

Cúspide em garra

Formação de uma cúspide acessória bem definida na face vestibular ou lingual dos dentes que se estende desde a junção amelocementária ou cíngulo e segue em direção incisal. Muitas vezes, pode afetar a oclusão natural do dente comprometido. Acomete principalmente incisivos superiores (COCLETE et al., 2015).

Sua etiologia é desconhecida, contudo há evidências de que sua origem seja genética. Outra possível causa seria a compressão nos dentes permanentes durante seu processo de formação e erupção (RANK, 2013; COCLETE et al., 2015). 

Tratamento: caso a cúspide acessória esteja afetando função ou estética do paciente, o tratamento deve incluir exames de imagem, visando analisar se há envolvimento da cúspide com o tecido pulpar e adequar o formato anatômico do dente em questão através de processos restauradores diretos ou indiretos, de modo a devolver a harmonia entre as arcadas (COCLETE et al., 2015). 

Anomalias de tamanho

Macrodontia

É uma anomalia rara que desenvolve dentes maiores que o normal (aumento do volume).  Pode ocorrer tanto no sentido mésio-distal, quanto no longitudinal, ou seja, cérvico-incisal ou cérvico-oclusal (BARROS, 2013; CARNEIRO, 2014; HARKER et al., 2015). Geralmente está ligada à distúrbios sistêmicos ou síndromes.

A macrodontia pode causar dificuldade na erupção do dente. Em dentes já erupcionados, o aparecimento de cáries é mais propício devido à sua anatomia (CARNEIRO, 2014).

Tratamento:

  • Tratamento ortodôntico: para alinhamento e reposição na arcada dentária; 
  • Gengivoplastia: enxerto de tecido mole para corrigir a retração gengival, ou para nivelar e harmonizar a gengiva; 
  • Contorno cosmético: procedimento que utiliza discos de lixa e acabamento para desgastar superficialmente os dentes, melhorando seu contorno/angulação e dar mais harmonia ao sorriso e à face.

Microdontia

Refere-se à redução do tamanho normal do dente ou parte dele, podendo ser localizada ou generalizada (CARNEIRO, 2014). Segundo Neville (2009), esse termo deveria ser utilizado apenas para dentes fisicamente menores que o comum: dentes se apresentam pequenos, com coroas curtas e muitas vezes sem os pontos de contato (BARROS, 2013). 

Acredita-se que a microdontia ocorre devido à uma proliferação anormal durante a fase de broto na odontogênese (BARROS, 2013).

Tratamento: deve-se considerar os requisitos funcionais, estéticos, necessidade de extração e o potencial de se intervir com tratamento restaurador (restaurações indiretas ou diretas) e ortodôntico (BARROS, 2013).

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Anomalias de posição

Ectopia

São casos em que os dentes apresentam algum desvio em seu padrão normal de erupção, ou seja, erupcionam numa posição atípica. Na literatura, tem sido descrita para os primeiros molares permanentes, principalmente os superiores.

Anomalias de número 

Dente supranumerário

Trata-se de um excesso no número normal de dentes (32 dentes) (PATIL et al., 2013).  Fatores genéticos e ambientais são considerados como etiologia; e ainda fatores como a hereditariedade, a tendência atávica, dicotomia do germe dental, síndromes genéticas e hiperatividade lâmina dentária – a hiperatividade localizada e independente da lâmina dentária é a teoria mais aceita para o desenvolvimento de dentes supranumerários (KASHYAP et al., 2015) 
 
Podem causar complicações como: apinhamento dentário, retardo na irrupção dos dentes “normais” da arcada, deslocamento (como rotação de dentes permanentes) alterando a oclusão e a estética. Mais raramente pode ocorrer formação de cistos e reabsorções nos dentes vizinhos (MAFRA, et al., 2012; TORRES et al., 2015). 

Tratamento: exodontia, caso esteja causando alguns dos problemas citados anteriormente. Contudo, é necessário levar em consideração a posição do dente, idade do indivíduo, dificuldade da cirurgia, entre outros. 

Raiz supranumerária

Raiz supranumerária é uma alteração que modifica a quantidade de raízes de um determinado elemento dentário. Geralmente, está associada à algum trauma, doença metabólica ou, simplesmente, a uma pressão exercida nos dentes. 

Pode ser um empecilho na exodontia (extração), causando dificuldades e necessitando de maior atenção, sendo sempre realizada por um profissional que esteja preparado. Já em casos de necessidade de tratamento endodôntico, a raiz supranumerária pode também dificultar o processo, principalmente na hora de localizar e acessar o canal. 

Tratamento – geral: dependerá do tipo de anomalia, da sua gravidade e do nível de comprometimento que causa em boca. A exodontia (extração) é indicada quando o surgimento de outro dente é alterado pela presença desta anomalia, quando ela interfere no tratamento ortodôntico ou na estética do sorriso.  

Caso haja reabsorção em raízes dos dentes ao lado, geralmente é realizada exodontia de dentes supranumerários. O tratamento ortodôntico é indicado se houver espaço para adaptação na arcada dentária e a exodontia não for indicada. 

Complemente sua leitura com Itens de higiene bucal para quem usa aparelho ortodôntico

Quais são os principais CIDs de Anomalias Dentárias? 

Algo bem relevante, ao se estudar e tratar anomalias dentárias, é ter conhecimento sobre a Classificação Internacional de Doenças – CID. Na odontologia essa informação será útil para emissão de atestados, liberação de exames e procedimentos relacionados à enfermidade do paciente, comunicação com outros profissionais da saúde e convênios médicos.  

Segue abaixo uma tabela com os principais CID’s relacionados às anomalias dentárias:

CID’s CID’s sobre anomalias dentárias
CID 10 – K00    Distúrbios do desenvolvimento e da erupção dos dentes 
CID 10 – K00.0    Anodontia 
CID 10 – K00.1    Dentes supranumerários 
CID 10 – K00.2    Anomalias do tamanho e da forma dos dentes 
CID 10 – K00.3    Dentes manchados 
CID 10 – K00.4    Distúrbios na formação dos dentes 
CID 10 – K00.5    Anomalias hereditárias da estrutura dentária não classificadas em outra parte 
CID 10 – K00.6    Distúrbios da erupção dentária 
CID 10 – K00.7    Síndrome da erupção dentária 
CID 10 – K00.8    Outros distúrbios do desenvolvimento dos dentes 
CID 10 – K00.9    Distúrbio não especificado do desenvolvimento dentário 
Atestados Odontológicos na Dental Speed

Se você é universitário do curso de odontologia e possui certo receio ao tratar esse tipo de patologia, a dica é: domine plenamente aquilo que é “comum” no dia a dia.

Dessa forma, ficará muito mais fácil, ao realizar exames clínicos e radiografias, diagnosticar eventuais casos de anomalias dentárias.

Pratique, questione, desconfie e nunca se acomode com os casos clínicos do cotidiano.

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Referências:

https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/05/1096281/1315-texto-principal-9753-3-10-20200420.pdf
https://secure.unisagrado.edu.br/static/biblioteca/salusvita/salusvita_v36_n2_2017_art_12.pdf 
https://arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/old/revista_odontologia/pdf/1_janeiro_abril_2006/estudo_prevalencia.pdf 
https://www.univale.br/wp-content/uploads/2020/02/ODONTO-2016_2-INCISIVO-LATERAL-CON%C3%93IDE.-AIANDRA.-GABRIELLA.-L%C3%8DDIA.-NEUS.A-S%C3%82MARA-SILVA.-SAMARA-VALADARES.pdf 

Publicado por
Dra. Maria Cecília de Azevedo

Cirurgiã-dentista pela Universidade do Vale do Itajaí, residente no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais - USP Bauru.

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