No dia 08 de março, comemoramos o Dia da Mulher, uma data que celebra as conquistas das mulheres ao longo da história, mas que também nos lembra que ainda há desafios a serem superados.
Para homenagear todas as dentistas, técnicas, auxiliares, secretárias, cientistas e diversas outras mulheres que atuam na odontologia, criamos esse conteúdo especial.
A seguir, entenda como as mulheres conquistaram espaço na odontologia atual. Veja também sobre a crescente presença feminina na ciência e os desafios para se destacar nessa tão importante área
O Caminho percorrido pelas mulheres
O caminho percorrido pelas mulheres para conquistar seu espaço na Odontologia foi árduo.
As mulheres pioneiras da então chamada medicina dentária iniciaram sua trajetória como assistentes e enfrentaram inúmeros preconceitos para se tornarem as protagonistas da história profissional.
- NA ÉPOCA: O trabalho feminino só era considerado válido se fosse realizado por mulheres solteiras, suprisse necessidades do lar, estivesse relacionado a profissões que exigiam qualidades consideradas femininas ou voltado para a clientela feminina e infantil.
Era comum uma dentista mulher naquela época ouvir comentários como “você está tomando o lugar de um chefe de família”, “você precisa procurar um marido”, entre outras frases misóginas ouvidas até hoje.
Mas, mesmo com tantos desafios, algumas figuras que foram se destacaram ao longo da história, sendo essenciais para abrir as portas para outras mulheres no campo odontológico.
Primeiras Dentistas mulheres no mundo
A conquista do lugar feminino na Odontologia a nível mundial, além de direitos e igualdade nesta profissão, iniciou com pioneiras como Lucy Beaman Hobbs Taylor (1833-1910).
Ela foi a primeira mulher a receber um título de graduação com a terminologia profissional de Cirurgiã-Dentista nos Estados Unidos.
Outra figura importante da Odontologia foi Emeline Roberts Jones (1836–1916), moradora de Nova York, que historicamente é considerada a primeira dentista da América.

Emeline atuou no exercício da profissão durante 34 anos antes de ser reconhecida como membro efetivo da Connecticut State Dental Society, em 1912.
Primeiras dentistas mulheres no Brasil
No Brasil, a história das mulheres na Odontologia iniciou no âmbito familiar, com pais e maridos cirurgiões-dentistas transmitindo seus conhecimentos para as filhas, esposas e sobrinhas.
A primeira brasileira a obter um diploma de graduação em Odontologia foi Antônia d’Ávila, que concluiu seu curso no Colégio da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Já em terras brasileiras, a primeira mulher a se graduar na área odontológica foi Isabella Von Sydow – 40 anos após a graduação de Lucy Beaman Hobbs Taylor nos EUA.
Ela foi a única mulher do time dos quatro profissionais formados pela primeira turma da escola de Odontologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Presença das mulheres na Odontologia atualmente
Hoje, a realidade é bem diferente. O Brasil é o país com o maior número de mulheres dentistas no mundo.
Aqui, elas representam mais de 71,82%, dos profissionais de odontologia brasileiros – incluindo nessa porcentagem cirurgiãs-dentistas, técnicas e auxiliares.
- 381 MIL PROFISSIONAIS: É o número de mulheres que atuavam como dentistas no Brasil, em 2020.
A luta e perseverança de mulheres como Lucy Taylor foi fundamental para que outras profissionais conquistassem espaço em diferentes âmbitos da odontologia.
Hoje, podemos ver mulheres envolvidas em diversas áreas da Odontologia, incluindo:
- Gestão de seus próprios consultórios;
- Lideranças em movimentos políticas e sindicais;
- Coordenações municipais e estaduais de saúde;
- Presidências de diversos conselhos regionais de odontologia;
- Coordenação-geral de saúde bucal do ministério da saúde;
- Plenário de gestão do conselho federal de odontologia.
- Grupos de estudos e pesquisas científicas;
- E muitas outras áreas.
Atuação e contribuição das mulheres na área científica
O Brasil continua sendo o país com mais mulheres dentistas no mundo. Cerca de 70% dos profissionais inscritos nos conselhos regionais são cirurgiãs-dentistas, e isso também se reflete no meio científico.
Segundo o artigo Gender Inequalities in the Dental Workforce: Global Perspectives:
“As mulheres representam 55% dos pesquisadores na área de saúde oral no Brasil, 35% na América do Norte, 33% na União Europeia, e apenas 25% no Japão.”
O documento também aponta que, apesar do crescimento da participação feminina na pesquisa científica, cargos de alto escalão continua sendo predominantemente ocupados por homens.
Contudo, a área de pesquisa em Odontologia no Brasil surpreende no tópico “Mulheres em cargos de liderança”, já que no país metade dos coordenadores dos programas de Mestrado e Doutorado em Odontologia são mulheres.
Descobertas importantes na área cientifica da odontologia
À medida que ganham seu espaço, as cientistas trazem grandes contribuições para a evolução da Odontologia.
Isso inclui:
- Procedimentos e técnicas inovadoras, como aparelhos ortodônticos estéticos e clareamento dental menos agressivo.
- Desenvolvimento de produtos duradouros e biocompatíveis, como implantes dentários de alta tecnologia e enxertos sintéticos;
- Estudos e descobertas sobre patologias odontológicas comuns, como a cárie dentária;
- Novas tecnologias em odontologia, incluindo aparelhos digitais, soluções para diagnóstico e manutenção da saúde bucal.
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As diferenças de gênero no meio científico e os desafios enfrentados
As mulheres na ciência odontológica ainda possuem diversos obstáculos para obter o reconhecimento na área.
A seguir, conheça os principais desafios enfrentados:
Predominância do gênero masculino
A comunidade científica, historicamente ocupada por homens, ainda hoje é majoritariamente composta por eles.
Eles se destacam em vários aspectos, como resultados de publicações, citações, bolsas concedidas e colaborações.
Além disso, estão à frente de grandes cargos e lideram o ranking de premiações científicas, recebendo maior reconhecimento na área.
Falta de representatividade
Apesar do crescente número de mulheres na ciência, sua participação em outras posições de liderança, como nas grades dos grandes eventos científicos internacionais, ainda é limitada.
Um fato que reforça essa disparidade é que em seus 120 anos de história, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido a quase 600 cientistas, mas apenas 18 destes eram mulheres.
Discriminação de gênero
Infelizmente, a discriminação de gênero persiste no meio científico. Cerca de 90% das cientistas premiadas do Brasil relatam terem sido alvo de machismo e preconceito em algum momento da carreira.
Ainda são comuns as ofensas disfarçadas de piadas, brincadeiras sexistas e desmerecimento por parte dos colegas de profissão, o que dificulta ainda mais a ascensão e o reconhecimento de mulheres no campo científico.
Multiplicidade de papéis
Além de sua profissão, a mulher precisa desempenhar inúmeros outros papéis na sociedade, como mãe, filha, esposa etc.
A maternidade, por exemplo, é um grande desafio, pois exige uma pausa na carreira científica, o que pode ser malvisto, influenciando diretamente a classificação em editais que custeiam trabalhamos científicos.
- POR QUE ISSO É IMPORTANTE? A produtividade de um(a) cientista é medida de acordo com a quantidade de artigos escritos e publicados, logo, pausas significam menor produtividade no âmbito científico.
Como alcançar equidade na área científica?
Para alcançar a equidade na área científica, diversas mudanças ainda precisam ser feitas.
É preciso:
Discutir sobre disparidade de gênero
É fundamental promover discussões sobre disparidade de gênero, abordando a importância da presença feminina na comunidade científica e a necessidade de eliminar práticas discriminatórias
Incluir mulheres na liderança
A inclusão de mulheres em cargos de liderança em eventos científicos ajuda a promover a equidade, além de garantir uma abordam mais rica e diversificada e inspirar as futuras gerações de cientistas.
Igualar salários e subsídios
A adoção de políticas para corrigir a disparidade salarial e a desigualdade no acesso a subsídios e recursos para pesquisa é essencial, permitindo as mulheres também ter suas contribuições cientificas valorizadas.
Combate ao machismo cultural
Combater o machismo cultural, que ainda é refletido na forma como a mulher é tratada nesta esfera, também é importante para garantir a equidade de gênero e criar uma cultura livre de preconceitos.
Implementar políticas de inclusão
Programas de cotas raciais e sociais, projetos de incentivo à ciência, campanhas educativas e outras ações do governo, também ajudam a aproximar cada vez mais a mulher da área científica.
Como fazer parte disso?
Se você possui interesse pela área de pesquisa científica, pode buscar por projetos desde os primeiros semestres da graduação.
Existem diversos trabalhos de pesquisa que podem ser executados, incluindo:
- relatos de caso;
- estudos in vitro;
- revisão de literatura;
- estudos clínicos;
- revisões sistemáticas;
- estudos observacionais;
- entre outros.
Essas atividades podem ser feitas por meio de grupos de pesquisa, iniciação científica ou até mesmo desenvolvendo trabalhos de pesquisa com um(a) professor(a)-orientador(a) por conta própria.
Além disso, é indispensável ter um(a) professor(a) te auxiliando, independentemente do trabalho que você deseja realizar.
Por fim, podemos notar que, apesar de a maioria de profissionais na odontologia serem mulheres, a área científica ainda oferece barreiras para o destaque do gênero feminino neste meio, como os estigmas sociais e a discriminação de gênero.
Contudo, espera-se que, com a presença feminina cada vez mais forte nas universidades, sendo alunas, lecionando, dirigindo e coordenando grandes estudos, essa realidade aos poucos vá se transformando.
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Fontes:
- BRASIL: Produção Científica Odontológica ocupa o 10º lugar no ranking mundial. Jornal Odonto e Saúde Integral, Https://www.jornaldosite.com.br/?p=3975, p. 1-1, 16 set. 2020.
- A REPRESENTATIVIDADE feminina na pesquisa científica odontológica. INFOUSP, [S. l.], p. 1-1, 15 fev. 2022. Disponível em: http://www.fo.usp.br/?p=74003. Acesso em: 15 fev. 2022.
- ‘É possível ser cientista e mãe’: grupo brasileiro que debate maternidade e carreira acadêmica ganha prêmio internacional. BBC News Brasil, São Paulo, p. 1-1, 24 nov. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59396170. Acesso em: 15 fev. 2022.
- 90% das cientistas mulheres premiadas do Brasil relatam machismo: Ciência. Estadão, São Paulo, p. 1-1, 18 out. 2020. Disponível em: https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,90-das-cientistas-premiadas-do-brasil-relatam-machismo,70003478974. Acesso em: 15 fev. 2022.
- MULHERES NA PESQUISA. Odontoprev, [S. l.], p. 1-1, 18 out. 2020. Disponível em: https://conexao.odontoprev.com.br/mulheres-na-pesquisa-ed29/. Acesso em: 15 fev. 2022.
- ‘NÃO olhe para cima‘ e a invalidação da mulher. Estado de Minas, [S. l.], p. 1-1, 30 dez. 2021. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2021/12/30/noticia-diversidade,1334322/nao-olhe-para-cima-e-a-invalidacao-da-mulher.shtml. Acesso em: 15 fev. 2022.
- MULHERES cientistas revelam desafios na carreira. O Povo, [S. l.], p. 1-1, 11 fev. 2022. Disponível em: https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2022/02/11/mulheres-cientistas-revelam-desafios-da-carreira.html. Acesso em: 15 fev. 2022.
- Tiwari T, Randall CL, Cohen L, et al. Gender Inequalities in the Dental Workforce: Global Perspectives. Adv Dent Res. 2019;30(3):60-68. doi:10.1177/0022034519877398
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