A síndrome de Down é uma alteração genética ocasionada pela trissomia do cromossomo 21, devido a presença de um cromossomo a mais no núcleo da célula.
De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), estima-se que há 300 mil pessoas com síndrome de Down no Brasil, ou seja, uma em cada 700 crianças nascem com a trissomia.
Em relação à Odontologia, os profissionais especialistas em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais têm um papel fundamental na vida de pacientes com síndrome de Down, pois estes costumam apresentar características orais específicas, bem como limitações motoras e cognitivas, tornando-as mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças orais e doenças sistêmicas.
A seguir vamos abordar os aspectos gerais da síndrome, as particularidades do paciente e como pode ser feita a abordagem e manejo desses indivíduos para um atendimento odontológico de qualidade.
Síndrome de Down e Odontologia
Com origem genética, os pacientes apresentam três cromossomos 21, fazendo com que a síndrome também seja conhecida como Trissomia do Cromossomo 21.
A Síndrome de Down pode se manifestar como:
- Trissomia do 21: é a mais comum. A trissomia do cromossomo 21 ocorre em todas as células;
- Mosaicismo: ocorre a presença de células com trissomia do cromossomo 21 e células com o número usual de cromossomos;
- Translocação: o tipo mais raro da síndrome, ocorre quando uma parte extra ou uma cópia completa do cromossomo 21 encontra-se ligado à outro cromossomo diferente.

Diagnóstico da Síndrome de Down
É possível chegar ao diagnóstico mesmo antes do nascimento, por meio de exames durante a gestação.
Após o nascimento o diagnóstico é clínico, devido as características físicas comuns da síndrome, e laboratorial, realizado por análise genética.
Por se tratar de uma alteração genética, não existe um tratamento específico. Contudo, há tratamentos como fisioterapia, estimulação psicomotora e fonoaudiologia para incentivar e auxiliar no desenvolvimento da criança.
Existem muitas características clínicas e fenotípicas da síndrome. Conheça as principais características que pacientes com Síndrome de Down costumam apresentar:
- Rosto arredondado;
- Cardiopatias congênitas;
- Baixa estatura;
- Olhos amendoados;
- Orelhas pequenas e com implantação baixa;
- Encurtamento das extremidades;
- Hipotonia (frouxidão muscular);
- Problemas de tireoide;
- Refluxo;
- Otite crônica;
- Prega palmar única.
Em relação à Odontologia, os pacientes apresentam características específicas, o que requer um cuidado diferenciado e um atendimento clínico especializado.
Os pacientes com Síndrome de Down na Odontologia apresentam alterações dentárias e nas estruturas envolvidas na fonação, respiração, mastigação e deglutição. É importante lembrar que as alterações sistêmicas também podem impactar na saúde oral.
Por causa da hipotonia muscular, além das características motoras e neurológicas, os pacientes apresentam dificuldade em realizar a higiene bucal, causando um maior acúmulo de biofilme dental e apresentando uma maior suscetibilidade à doença periodontal, o que é potencializado pela redução numérica dos linfócitos T maduros e defeitos funcionais de quimiotaxia e fagocitose celular de neutrófilos e monócitos.
Por esses motivos, é fundamental o acompanhamento clínico odontológico desde a primeira infância até a vida adulta do paciente.
A seguir, vamos descrever as principais características orais e dentárias do paciente com Síndrome de Down e como realizar o atendimento clínico.
Manifestações bucais da síndrome de Down
Pela dificuldade motora dos pacientes, pode ocorrer acúmulo de biofilme, o que provoca problemas periodontais gengivite, como bolsas periodontais e mobilidade dentária.
Apesar dos problemas periodontais, são pacientes com baixos índices de cárie devido a capacidade de tampão salivar, pois a saliva tem como uma de suas funções a proteção da mucosa e dos dentes.
Do mesmo modo, devido à falta de tonicidade muscular e a permanência dos alimentos por mais tempo na boca, o paciente tem propensão a desenvolver doenças orais.
Para o dentista realizar o procedimento clínico, é importante conhecer as alterações orais e anomalias dentárias mais comuns em pacientes que apresentam a trissomia do cromossomo 21:
Alterações orais em pacientes com Síndrome de Down:
- Respiração bucal;
- Língua fissurada;
- Macroglossia;
- Palato ogival (originário da nasofaringe estreita);
- Maxila atrtésica;
- Maloclusões;
- Doença periodontal;
- Hipotonia;
- Fissura labial;
- Tonsilas ce adenóide hipertrofiada;
- Quelite angular;
- Candidíase oral.
Anomalias dentárias em pacientes com Síndrome de Down:
- Erupção dentária tardia;
- Hipodontia na dentição decíduo e/ou permanente;
- Anomalias dentárias coronárias e radiculares;
- Dentes coróides;
- Hipocalcificaçào do esmalte;
- Fusão;
- Geminação;
- Oligodontia;
- Microdontia;
- Taurodontia.
Algumas das manifestações bucais, além das características da síndrome genética, podem ser causadas por alguns fatores como: erupção tardia, bruxismo, deficiências imunológicas e respiração bucal, entre outros.
Com o atender pacientes com Síndrome de Down na Odontologia
A resolução 25/2002, publicada no Diário Oficial da União em 28/05/2002 pelo Conselho Federal de Odontologia regulamentou a especialidade odontológica para “Pacientes com necessidades Especiais”.
É direito dos pacientes serem atendidos integralmente pelos serviços e programas públicos. Dessa forma, o Centro de especialidades odontológicas (CEO) é um dos serviços oferecido pelo Sistema Único de Saúde.
De antemão, para um atendimento odontológico de pacientes com Síndrome de Down, devem ser consideradas todas as características gerais, bucais e de comportamento do paciente (criança, adolescente ou adulto)
Ao realizar o atendimento clínico, o dentista deve avaliar o histórico médico por meio de uma anamnese detalhada, afim de saber anteriormente qualquer alteração ou doença sistêmica.
Com isso, devemos também ter muito cuidado no uso de contenções, devido a mobilidade das vértebras cervicais C1 e C2, para não causar nenhum tipo de compressão indevida.
Além disso, como os problemas odontológicos são frequentes, é necessário o acompanhamento periódico com o cirurgião-dentista.
Nesse ínterim, o ideal é que o profissional esteja integrado à equipe multidisciplinar, trabalhado em conjunto com demais profissionais para um tratamento clínico de sucesso.
Quanto mais cedo na infância o acompanhamento é realizado, mais simples se torna o tratamento.
No primeiro ano de vida é importante priorizar a orientação aos responsáveis sobre possíveis hábitos deletérios, cronologia de erupção, dietas e riscos cariogênicos e principalmente orientação de higiene bucal.
A maloclusão pode ser corrigida logo nos primeiros anos de vida, bem como a implantação de hábitos de higiene controlados para evitar a manifestação de problemas periodontais.
Além disso, o dentista deve orientar a família e o paciente sobre questões como alimentação e higiene bucal, como exemplo, evitar o excesso de alimentos com açúcar na dieta, estimulá-la a escovar os dentes sozinha, ir ao dentista periodicamente, etc.
Para que o paciente seja mais colaborativo durante o atendimento podemos considerar algumas técnicas de manejo já empregadas na Odontopediatria, como realizar reforços positivos, modelar a maneira de se comunicar etc.
Uma técnica muito utilizada e com efeitos positivos é a “dizer-mostrar-fazer”, aumentando a segurança da criança durante o atendimento, deixando-a preparada para tudo que irá acontecer e diminuindo os níveis de ansiedade.
No caso de pacientes com dificuldade de colaboração, há também técnicas diferenciadas que, em casos extremos, podem ser usadas para permitir a execução da prática odontológica. É o caso de analgesia, sedação ou, até mesmo, anestesia geral.
Todavia, é preciso analisar cada caso de forma individual, por causa das características e histórico clínico de cada paciente.
Pacientes com Síndrome de Down possuem várias predisposições a alterações bucais, sendo importante o acompanhamento odontológico o mais cedo possível.
Além disso, é ideal que seja oferecido um tratamento multidisciplinar para o melhor desenvolvimento do paciente e monitoramento das manifestações sistêmicas e orais.
Na Dental Speed, sua parceira na Odontologia, você encontra produtos para diversas especialidades clínicas, incluindo os procedimentos realizados em pacientes odontológicos com necessidades especiais. Clique aqui e confira!
Leia também:
- Atendimento odontológico a pacientes com hemofilia e doença de Von Willebrand
- Atendimento Odontológico de Pacientes com TEA – Transtorno do Espectro Autista
- Atendimento de bebês em Odontopediatria
Texto originalmente publicado em 20 de março de 2020 e reescrito em 21 de janeiro de 2024.
Referências:
ANDRADE, Ana Paula Paiva de e ELEUTEIO, Adriana Silveira de Lima. Pacientes portadores de necessidades especiais: abordagem odontológica e anestesia geral. Rev. Bras. Odontol. [online]. 2015, vol.72, n.1-2, pp. 66-69. ISSN 1984-3747.
FALCÃO, Ana Carolina. Síndrome de Down: abordagem odontopediátrica na fase oral. Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo, [S. l.], p. 57-67, 1 jan. 2019. Disponível em: https://publicacoes.unicid.edu.br/index.php/revistadaodontologia/article/view/801/683. Acesso em: 12 maio 2022.
ESTUDO salivar em paciente com síndrome de down na odontopediatria. 2019. 32 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Odontologia) – UNIVERSIDADE DE UBERABA CURSO DE ODONTOLOGIA, [S. l.], 2019.
SILVA, Fabiane Bortolucci. Síndrome de Down – Aspectos de interesse para o Cirurgião-Dentista. Salusvita, Bauru, v. 20, n. 2, p. 89-100, 29 jun. 2001. Disponível em: https://secure.unisagrado.edu.br/static/biblioteca/salusvita/salusvita_v20_n2_2001_art_05_por.pdf. Acesso em: 7 jun. 2022.
DUARTE, Maria João Silva. A importância da odontopediatria na melhoria da qualidade de vida de crianças com Trissomia 21. Orientador: Cristina Silva. 2019. 27 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado Integrado em Medicina Dentária) – Porto, [S. l.], 2019. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/8436/1/PPG_30109.pdf. Acesso em: 8 jun. 2022.
ALVES, Filipa Raquel Correia. Pacientes Especiais em Odontopediatria: Proposta de Protocolo. 2012. 102 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestre em Medicina Dentária) – Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2012. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3432/3/T_FilipaAlves.pdf. Acesso em: 8 jun. 2022.
https://crosp.org.br/noticia/dia-internacional-da-sindrome-de-down/
1 Comentário