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Odontopediatria: pacientes com Síndrome de Down

O alto risco da Hepatite na Odontologia
O alto risco da Hepatite na Odontologia

A síndrome de Down é uma condição genética ocasionada por alterações cromossômicas durante a gestação.  

De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), estima-se que há 300 mil pessoas com síndrome de Down no Brasil, ou seja, uma em cada 700 crianças nascem com a trissomia.

Em relação à Odontologia, os profissionais de odontopediatria têm papel fundamental na vida de crianças com síndrome de Down, pois estas costumam apresentar características orais específicas, bem como limitações motoras e cognitivas, tornando-as mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças orais.

A seguir vamos abordar os aspectos gerais da síndrome, as particularidades do paciente com Down e como pode ser feita a abordagem e manejo desses indivíduos para um atendimento odontológico de qualidade.

Síndrome de Down

A Síndrome de Down foi descrita pelo médico pediatra John Langdon Down em 1866 em Londres, no Hospital John Hopkins.

Com origem genética, pessoas com Down possuem três cromossomos 21, fazendo com que a síndrome também seja conhecida como Trissomia do Cromossomo 21. Totalizando 47 cromossomos, em vez dos 46 normais, trata-se da anomalia genética mais comum.

Tipos de síndrome

A Síndrome de Down pode se manifestar como:

  • Trissomia do 21: é a mais comum, onde a criança nasce com uma cópia extra do cromossomo 21 em cada célula que possui, devido divisão celular anormal.
  • Mosaicismo: alteração que ocorre na célula após a fertilização, em que há uma cópia extra do cromossomo 21 apenas em algumas células, nesse tipo de alteração se apresenta menos sintomas da síndrome.
  • Translocação: o tipo mais raro da síndrome, ocorre quando uma parte extra ou uma cópia completa do cromossomo 21 encontra-se ligado a outro cromossomo diferente.

Diagnóstico e tratamento

É possível chegar ao diagnóstico mesmo antes do nascimento, por meio de exames realizados durante a gestação. Após o nascimento o diagnóstico é clínico, através de características físicas comuns da síndrome, e laboratorial, por meio de análise genética.

Por se tratar de uma alteração genética, não existe um tratamento específico. Contudo, há tratamentos como fisioterapia, estimulação psicomotora e fonoaudiologia para incentivar e auxiliar o desenvolvimento da criança.

Características dos pacientes com síndrome de Down

Existem muitas características clínicas e fenotípicas da síndrome. Sendo assim, pacientes com síndrome de Down costumam apresentar:

  • rosto arredondado;
  • baixa estatura;
  • olhos amendoados;
  • orelhas pequenas e com implantação baixa;
  • encurtamento das extremidades;
  • hipotonia;
  • prega palmar única.

Outras características da síndrome podem incluir condições cardíacas congênitas, refluxos, problemas de tireoides, otites crônicas e apneia do sono.

Alterações orais

Referente a alterações orais, as mais frequentes em pacientes com a síndrome são:

  • Macroglossia: crescimento anormal da língua, ocorrendo hipertrofia;
  • Respiração bucal dificultada;
  • Palato ogival: palato estreito; alteração estrutural do palato em que há uma elevação na parte central;
  • Língua fissurada: condição na qual leva a formação de sulcos ou de fissuras no dorso da língua, podendo causar halitose;
  • Tendências à mordida cruzada: as más oclusões são caracterizadas pelo desvio de normalidade de tamanho, forma e posição da maxila e ou/mandíbula, ou dos dentes inseridos nas bases ósseas;
  • Problemas periodontais: principalmente em adultos;
  • Classe 3 de Angle: má oclusão caracterizada pelo posicionamento mais anterior da mandíbula em relação à maxila.

Pela dificuldade motora desses pacientes, os índices de placa bacteriana tendem a crescer, o que provoca problemas periodontais como bolsas periodontais, mobilidade dentária e gengivite.

Apesar dos problemas periodontais, são pacientes com baixos índices de cárie devido a capacidade de tampão salivar, pois a saliva tem como uma de suas funções a proteção da mucosa e dos dentes.

Saiba mais sobre A importância da Saúde Bucal na prevenção de doenças

Do mesmo modo, devido à falta de tonicidade muscular e a permanência dos alimentos por mais tempo na boca, o paciente tem propensão a desenvolver doenças orais. 

Anomalias dentárias

Algumas anomalias dentárias também podem se manifestar em pacientes com Down. São elas:

  • Hipodontia: anomalia dentária de número em que se caracteriza por ausência dentária congênita, afetando ambas as dentições;
  • Dentes conoides: dentes menores comparados aos normais, que apresentam forma de cone;
  • Hipocalcificação do esmalte: manifesta-se como ausência de translucidez ou opacidade do esmalte, são defeitos que apresentam mudança de coloração, mas sem perda de estrutura do esmalte;
  • Fusão: no momento da odontogênese temos dentes que tentam se fusionar, logo acontece a união de dois germes dentários adjacentes, aderidos pela dentina, possuindo duas coroas e duas raízes;
  • Geminação: na fase de odontogênese ocorre a tentativa de um germe dentário em dividir-se, fazendo com que resulte em um dente com coroa bífida, apenas uma raiz e um canal radicular em comum. Ocorre com maior frequência na dentição decídua.

Essas manifestações podem ser causadas por alguns fatores como: erupção tardia, bruxismo, maior quantidade de flúor entre os dentes, deficiências imunológicas, respiração bucal, entre outros.

Atendimento do paciente com Down

De antemão, para um atendimento odontológico de pacientes com Down devem ser consideradas todas as características gerais, bucais e de comportamento da criança.

Ao atender crianças com Síndrome de Down é importante que o(a) odontopediatra tenha acesso ao histórico médico da criança, afim de saber anteriormente qualquer alteração como cardiopatia, problema respiratório e auditivo.

Com isso, devemos também ter muito cuidado no uso de contenções, devido a mobilidade das vértebras cervicais C1 e C2, para não causar nenhum tipo de compressão indevida.

Além disso, como os problemas odontológicos são frequentes, é necessário o acompanhamento periódico com o cirurgião-dentista.

Nesse ínterim, o ideal é que o dentista esteja integrado à equipe multidisciplinar, trabalhado em conjunto com demais profissionais para um tratamento de sucesso. Quanto mais cedo na infância o acompanhamento é realizado, mais simples se torna o tratamento.

No primeiro ano de vida é importante priorizar a orientação aos responsáveis sobre possíveis hábitos deletérios, cronologia de erupção, dietas e riscos cariogênicos e principalmente orientação de higiene bucal.

A má oclusão pode ser corrigida logo nos primeiros anos de vida, bem como a implantação de hábitos de higiene controlados para evitar a manifestação de problemas periodontais.

Além disso, o(a) odontopediatra deve orientar a família e a criança sobre questões como alimentação e higiene bucal, como exemplo, evitar o excesso de alimentos com açúcar na dieta, estimulá-la a escovar os dentes sozinha, ir ao dentista periodicamente, etc.

Abordagem e técnicas de manejo

Os pacientes na maioria das vezes são de fácil manejo, mas, para maior aceitação ao atendimento, é importante acostumar a criança ao ambiente do consultório.

Para que o paciente seja mais colaborativo durante o atendimento podemos considerar algumas técnicas de manejo já empregadas na Odontopediatria, como realizar reforços positivos, modelar a maneira de se comunicar etc.

Saiba mais sobre Reforço positivo na Odontopediatria e demais técnicas de manejo

Uma técnica muito utilizada e com efeitos positivos é a “dizer-mostrar-fazer”, aumentando a segurança da criança durante o atendimento, deixando-a preparada para tudo que irá acontecer e diminuindo os níveis de ansiedade.

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No caso de pacientes com dificuldade de colaboração, há também técnicas diferenciadas que, em casos extremos, podem ser usadas para permitir a execução da prática odontológica. É o caso de analgesia, sedação ou, até mesmo, anestesia geral.

Todavia, é preciso analisar cada caso de forma individual, pois as características do paciente com Down podem, por exemplo, dificultar manobras de intubação traqueal.

Odontologia para pessoas com deficiência

A resolução 25/2002, publicada no Diário Oficial da União em 28/05/2002 pelo Conselho Federal de Odontologia regulamentou a especialidade odontológica para “pacientes com necessidades especiais”.

O objetivo da especialidade é capacitar o cirurgião-dentista ao atendimento de pessoas que com alguma deficiência durante toda a vida ou por um período.

É direito dos pacientes serem atendidos integralmente pelos serviços e programas públicos. Dessa forma, o Centro de especialidades odontológicas (CEO) é um dos serviços oferecido pelo Sistema Único de Saúde.

Por fim, concluímos que pacientes com Síndrome de Down possuem várias predisposições a alterações bucais, sendo importante o acompanhamento odontológico o mais cedo possível.

Além disso, é ideal que seja oferecido um tratamento multidisciplinar para o melhor desenvolvimento das nossas crianças que possuem um cromossomo e amor a mais na genética.

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Texto originalmente publicado em 20 de março de 2020 e reescrito em 15 de junho de 2022.

Referências:

ANDRADE, Ana Paula Paiva de  e  ELEUTEIO, Adriana Silveira de Lima. Pacientes portadores de necessidades especiais: abordagem odontológica e anestesia geral. Rev. Bras. Odontol. [online]. 2015, vol.72, n.1-2, pp. 66-69. ISSN 1984-3747.

FALCÃO, Ana Carolina. Síndrome de Down: abordagem odontopediátrica na fase oral. Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo, [S. l.], p. 57-67, 1 jan. 2019. Disponível em: https://publicacoes.unicid.edu.br/index.php/revistadaodontologia/article/view/801/683. Acesso em: 12 maio 2022.

ESTUDO salivar em paciente com síndrome de down na odontopediatria. 2019. 32 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Odontologia) – UNIVERSIDADE DE UBERABA CURSO DE ODONTOLOGIA, [S. l.], 2019.

SILVA, Fabiane Bortolucci. Síndrome de Down – Aspectos de interesse para o Cirurgião-Dentista. Salusvita, Bauru, v. 20, n. 2, p. 89-100, 29 jun. 2001. Disponível em: https://secure.unisagrado.edu.br/static/biblioteca/salusvita/salusvita_v20_n2_2001_art_05_por.pdf. Acesso em: 7 jun. 2022.

DUARTE, Maria João Silva. A importância da odontopediatria na melhoria da qualidade de vida de crianças com Trissomia 21. Orientador: Cristina Silva. 2019. 27 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado Integrado em Medicina Dentária) – Porto, [S. l.], 2019. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/8436/1/PPG_30109.pdf. Acesso em: 8 jun. 2022.

ALVES, Filipa Raquel Correia. Pacientes Especiais em Odontopediatria: Proposta de Protocolo. 2012. 102 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestre em Medicina Dentária) – Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2012. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/3432/3/T_FilipaAlves.pdf. Acesso em: 8 jun. 2022.

Publicado por
Sabriny Hertel

CRO PA 9431 Cirurgiã-dentista pelo Centro Universitário do Pará, Especialista em Odontopediatria pela Neom-SP.

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