Retratamento endodôntico
Retratar endodonticamente um dente, ou partir para a exodontia e implante? Está aí um grande desafio tanto para implantodontistas quanto para endodontistas.
Esse tópico é foco de muitas dúvidas e discussões, e infelizmente, não há uma “receita de bolo” que possamos seguir! Temos que analisar caso a caso individualmente e estar cientes que é uma decisão complexa e difícil.
Na minha experiência como implantodontista, posso dizer que já tive sucessos e insucessos, tanto em um caminho como no outro! Porém com o tempo e os estudos constantes, e, principalmente, com a análise dos insucessos, hoje eu observo alguns critérios e tomo algumas precauções que me levam a ter mais sucesso nesses tipos de tratamentos.
Além disso, no meu consultório, essa é uma decisão que sempre tomamos em equipe.
O endodontista deve estar incluso nesse diagnóstico e discussão, e muitas vezes o protesista também. Esses são casos multidisciplinares e a discussão e ponderamento da equipe são imprescindíveis para a decisão final.
Ainda assim, é essencial que o paciente esteja muito ciente dos riscos envolvidos e faça parte do processo decisório. Especialmente quando optamos por retratar, ele deve estar esclarecido e de acordo com os riscos de insucesso.
Após análise e discussão com a endodontista que trabalha comigo, elaboramos uma lista de critérios que devem ser observados para ajudar nessa avaliação:
Extensão da perda dentária e estrutura do remanescente dental
Esse ponto é fundamental e deve ser imediatamente analisado. Há possibilidade de restauração? Seja com restauração direta, indireta, ou com núcleo e coroa, o dente deve ter remanescente suficiente para ser adequadamente restaurado. Portanto, de nada adianta serem canais possíveis de retratamento se não for possível a reabilitação posterior, concordam?
Comprometimento da raiz e condutos radiculares
Outro ponto primordial é avaliar se a(s) raízes estão ou não comprometidas. Há presença de alguma trinca ou fratura? E os condutos radiculares como estão? Há presença de algum fragmento de instrumento no seu interior? Há calcificação em algum conduto que impeça a correta desinfecção e retratamento desses canais?
Dependendo do local em que se encontram esses problemas, o retratamento se torna inviável, e nesse caso a exodontia e implante passam a ser a opção de escolha. E como avaliar adequadamente esses quesitos? Através de tomografia computadorizada, sempre!
Já tive casos de retratar e descobrir uma fratura na hora da cimentação do pino, por não ter realizado a tomografia previamente, pois julgávamos um caso “simples”.
Hoje, minha conduta é sempre solicitar a tomografia para todos os casos que julgamos retratáveis.
![](https://blog.dentalspeed.com/wp-content/uploads/2021/06/retratacao-artigo-dra-carla.png)
Perda óssea e estrutura óssea remanescente
Não posso negar que, como implantodontista, a primeira coisa que vejo ao avaliar uma radiografia ou tomografia de um dente com prognóstico incerto é isso: qual a condição do osso de suporte? Já houve perda considerável? E clinicamente: há doença periodontal ativa?
Em muitos casos no momento há condições para exodontia e implante imediato, por exemplo, e se resolvermos manter o dente e esperar um pouco pode ser que não encontremos essa mesma situação, exigindo enxerto prévio, aumentando morbidade, custos e tempo de tratamento….
Essa é realmente uma questão bastante delicada e que envolve análise criteriosa, mas que não pode ser negligenciada jamais. Quando tratamos de perda óssea e controle periodontal costumo ser conservadora e esperar mais em casos de dentes unirradiculares, que são mais fáceis para controle da doença periodontal.
Já nos dentes posteriores, analiso e acompanho bem de perto, pois perdas ósseas consideráveis levam ao aumento da complexidade para o tratamento com implantes, tanto pela presença do seio maxilar, na arcada superior, como do nervo alveolar, na arcada inferior. E desta forma, muitas vezes, em casos limites, opto pela exodontia em casos posteriores.
Grau de infecção
Além de todas as questões anteriores, o tamanho da lesão periapical e o grau de infecção também devem ser analisados. Dentes com grandes lesões e infecções ativas e de retratamento/ ou restauração duvidosos muitas vezes devem ser extraídos para remoção de foco infeccioso e para minimizar riscos.
Nesse âmbito também é muito importante avaliar o estado geral de saúde do paciente. Sendo que, em muitos casos, a presença de determinada comorbidade faz com que optemos pela extração para reduzir riscos e maiores danos à saúde geral do paciente.
Na maioria desses casos é inviável a realização de implante imediato, sendo necessário tratamento de forma estagiada.
Quer saber mais sobre infecções endodônticas? Leia a matéria: A importância do combate à infecções endodônticas.
![](https://blog.dentalspeed.com/wp-content/uploads/2021/06/extracao-artigo-dra-carla.png)
Desse modo, como disse no início do texto, na minha jornada de quase 10 anos trabalhando com implantes, já tive alguns insucessos, especialmente em casos que optamos por retratar e depois acabaram indo para exodontia e implante.
Sendo assim, recomendo fortemente que você:
- Solicite tomografia computadorizada para todos esses casos, podendo, assim, avaliar minuciosamente o estado desse elemento dental e de seus canais radiculares, bem como do osso de suporte;
- Trabalhe em equipe para essa tomada de decisão: analisando os pontos de vista das outras especialidades e levando em consideração a autonomia do paciente sobre a sua própria saúde;
- Avalie os pontos listados acima, que tenho certeza que a decisão se tornará mais fácil e clara!
Espero que esse texto o ajude e que você aumente os sucessos dos seus tratamentos!
E não poderia deixar de agradecer a Dra. Danieli Luchtemberg Walker, endodontista que trabalha comigo há anos, pelas suas contribuições!
Um grande abraço e até a próxima!
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