Ortodontia

Contenção em Ortodontia

Afinal… esse tema se define apenas pelo uso de aparelhos removíveis programados para depois da finalização ortodôntica ou ele vai além? Qual tipo de contenção prescrever e por quanto tempo? E as temidas recidivas, o que fazer para alcançar a estabilidade pós tratamento? Nesta matéria abordarei esses três aspectos.

Contenção: aparelhos ou fase pós ortodontia?

Definimos como contenção a fase que ocorre após o tratamento ortodôntico. Esse termo, tem como definição a estabilização dos dentes em estética ideal e posição funcional.

Além de prescrever aparelhos, fazemos um monitoramento do paciente. Costumo acompanhá-los por pelo menos dois anos os adultos e até o final de crescimento os jovens, através de consultas espaçadas. Programo os retornos da seguinte forma: primeiro mês pós remoção do aparelho, terceiro mês, sexto mês, a partir daí, a cada seis meses, orientando-os para a importância da visita periódica, mesmo após esta fase.

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Qual tipo de contenção escolher e por quanto tempo se utiliza?

A placa de Hawley, é a contenção removível mais utilizada pelos ortodontistas, tem como vantagem ser higiênica, possibilitar a inclusão de acessórios como molas, plano de mordida, grade lingual e servir como guia de erupção de segundos e terceiros molares (YANEZ et al, 2009). Porém esse aparelho pode trazer interferências na oclusão, por isso o Wrap Around (Contenção Contínua- Hawley modificado) apresenta- se superior ao Hawley convencional, por não trazer interferências oclusais (o  fio contorna os dentes até os molares). (Viazis, 1993; Cabrera & Cabrera 2004; Nanda, 2007, Lino 2010).

Já no arco inferior, as contenções fixas 3×3, são as mais usuais. Normalmente fio twist-flex de .0175” colado de canino a canino. Pode-se utilizar também a contenção higiênica, que consiste em uma barra ondulada que permite um uso mais fácil do fio dental, porém, por apresentar uma quantidade maior de fio, aumenta a área de retenção de cálculo, comprometendo a saúde periodontal (Shirasu et. al, 2007).

Existem inúmeros outros tipos de contenções descritos na literatura, porém vale ressaltar a importância das contenções ativas ou funcionais, pela sua aplicação para pacientes em crescimento que apresentem características que justifiquem o seu uso.

Para o controle das recidivas de Classes II e III, Proffit (1993) ressalta que aparelhos funcionais devem ser usados. Azenha e Macluf (2008) apresentaram os aparelhos ortopédicos que eles mais utilizam: Bionator para classe II e mordida profunda; Planas para classe I e II, bruxismo e disfunção temporomandibular; Bimler A para classe II Bimler C para classe III postural e para casos de mordida aberta esquelética, pode ser utilizado o Bite block.

É importante considerarmos as situações inicial e final de cada caso para escolhermos os aparelhos e suas modificações. Levar em consideração o tipo de maloclusão, o padrão de crescimento, herança genética, presença ou não de hábitos deletérios como a interposição lingual ou respiração oral, por exemplo.

Nanda, 2007 indica para mordida aberta retentores fixos superiores e inferiores que incluam os primeiros pré-molares. Em casos de pacientes com perdas de dentes, o autor indica um retentor removível com reposição dos dentes no próprio aparelho.

Cabrera & Cabrera, 2004 ressaltam que em casos de diastemas medianos pode ser utilizado placa de Hawley modificada simultaneamente com contenção fixa de canino a canino, ou pode ser colocado ganchos bilaterais no arco vestibular na placa Hawley e inserir elástico entre eles para tração na região anterior.

Lino, 2001 afirma que quando houver extrações, a contenção inferior fixa deve ir até o segundo pré-molar, colado na fosseta mesial do pré- molar. Em pacientes com mordida profunda recomenda que o aparelho Hawley seja construído com um plano de mordida anterior, para o toque dos incisivos inferiores e desoclusão dos segmentos posteriores. Para casos de interposição lingual recomenda que seja feita, no aparelho de Hawley, uma abertura na área do palato para melhor posicionamento lingual em repouso e na deglutição. E o aparelho posicionador lingual que é um Hawley sem o arco vestibular e sem grampos para corrigir posicionamento da língua em pacientes classe III.

E as recidivas? 

Antigamente costumava-se dizer que o paciente deveria utilizar as contenções por um período específico. Hoje as pesquisas mostram que na maioria dos casos, pode ser necessário a utilização das contenções por vários anos e para alguns casos, o paciente deverá usar as contenções pelo resto de sua vida, caso queira ficar com os dentes alinhados. Estudos a longo prazo demonstram que o movimento dental é um fenômeno fisiológico normal, tenha sido ou não realizado tratamento ortodôntico, e foi demonstrado que esses movimentos continuam por toda a vida. As dimensões da arcada tendem a se reduzir e, como consequência, o apinhamento em geral aumenta com a idade. WILLIAMS (1997). As pequenas recidivas podem ocorrer, inclusive, após vários anos após o tratamento. (AZENHA e MACLUF, 2008). Portanto é importante o paciente ter consciência disso e comparecer as visitas periódicas ao seu ortodontista, pois essas consultas são fundamentais para monitoramentos, avaliações e prevenções de possíveis fatores que possam interferir nessa estabilidade. A negligência desse controle pode levar à recidivas do tratamento.

Bibliografia consultada:

AZENHA, C. R.; MACLUF FILHO, E. Protocolos em Ortodontia – diagnóstico, planejamento e mecânica. Ed. Napoleão, 1ª ed., cap. 14, p. 392 -394, 2008.

CABRERA,C. A. G.; CABRERA, M. C. Ortodontia. Ed. Interativas, cap. 12, p. 417-430, 2004.
HAWLEY, CA The principles and art of retention. European Journal of Orthodontics, v. 29, p. i16-i22, 2007.

NANDA, R. Estratégias Biomecânicas e Estéticas na Clínica Ortodôntica. Ed.Santos, 2007.

PROFFIT, W. R. Retention. In: Contemporary Orthodontics. 2 nd. ed. St. Louis: Mosby, 1993. p. 534 – 535.

SHIRASU, BK; HAYACIBARA, RM, RAMOS, AL. Comparação de parâmetros periodontais após utilização de contenção convencional 3X3 plana e contenção modificada. Rev Dent Press Ortodon Ortop Facial, v. 12, n. 1, p. 41-47, Jan./Fev.2007.

VIAZIS, AD. Atlas of Orthodontics Principles and Clinical Applications. W. B. Saunders Company, cap. 7, p. 331-342, 1993.

WILLIAMS, JK; ISAACSON, KG; COOK, PA; THOM, A. Aparelhos Ortodônticos Fixos Princípios e Prática. Ed. Santos, 1ª ed., cap. 15, p. 127-129, 1997.

YANEZ, EER; ARAUJO, RC; MARCOTE, ACN. 1001 Dicas em ortodontia e seus segredos. Ed. Amolca, cap. 10, p. 335-381, 2009.


Publicado por
Dra. Thalita Varela Galassi

Professora Coordenadora de Ortodontia Sociedade Paulista de Ortodontia: SPO. Cirurgiã-dentista pela Universidade Metodista de São Paulo, Especialista em Ortodontia pela Sociedade Paulista de Ortodontia.

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