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Relações amorosas na odontologia

mulher afro americano nova contra abracos cor de rosa sorrindo despreocupado e feliz 1187 23943
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Juliana Lemes*

Relações amorosas

Fui criada como menininha. Não tinha o hábito de brincar de carrinho, soltar pipa ou qualquer coisa mais aventureira para a idade. Minhas amigas, também menininhas, eu e nossas Barbies formávamos um time perfeito! Sempre arrumadinhas, cabelo no lugar, sem cicatrizes nos joelhos ou roxos nas canelas, coisas típicas da infância.

Sempre fui gordinha e, com o passar do tempo, isso influenciou muito minha relação com as pessoas. Naquela época era só uma “exclusão social”.

Hoje tem nome e pode render uma grana: Bullying. Meus amigos (ou não) me deixavam de lado e eu era tida, nos grupos que me aceitavam, como a gordinha inteligente e engraçada. Não posso negar que o Bullying me rendeu boas coisas: nunca reprovei no colégio, sempre estava entre as três notas mais altas da classe, era respeitada pelos professores e cursei uma das melhores Universidades do mundo. Eu não tinha muitos amigos, não tinha namorado e, por isso, meu programa de todos os dias era estudar.

Cresci ouvindo meus pais dizerem que eu tinha que ser independente: independente da opinião dos outros, independente financeiramente e independente de relações amorosas.

Eu tinha que ser eu comigo mesma e deveria cuidar do meu futuro. Foi o que fiz. Meus pais, sábios, diziam que eles não durariam pra sempre e que eu precisava aprender a me cuidar e a viver do meu trabalho.

No cursinho pré-vestibular conheci meu marido. Foi o primeiro cara que apresentei para minha família e o início do nosso namoro coincidiu com o início das aulas na faculdade. Tivemos uma briga feia por isso: começo de namoro à distância, na faculdade, onde a azaração acontece… Mas as palavras dos meus pais nunca saíram da minha cabeça.

Durante essa discussão, eu disse, num Português claro e sonoro, que se eu precisasse escolher entre o meu namoro e a Odontologia, o primeiro seria descartado. Afinal, eu precisava ser independente financeiramente e independente de homens para me sustentar.

Chegamos num denominador comum e lá fui eu morar fora, deixando minha família e meu namoro não para trás, mas paralelos à minha decisão: ser alguém independente.

Quando se decide ser independente (sim, essa palavra se repete muito e tem uma justificativa: jamais esquecer os ensinamentos dos meus pais), sentimos nas costas o peso do Feminismo e, até, o calor dos sutiãs pegando fogo, como se quem tivesse estado em meio à fumaça da Revolução fosse eu, ou você, ou a colega do consultório ao lado. Não teria sido mais fácil guardar os sutiãs na gaveta, usá-los da forma tradicional e não como instrumento de revolução, sermos esposas dedicadas, do tipo que faz massagem nos pés do marido ao final de um dia exaustivo de trabalho dele, de cuidar de uma prole imensa, deixar a casa brilhando e a cozinha sempre com cheiro de café e bolo, e não termos que nos preocupar com mais nada?

Não seria mais cômodo para nós, mulheres, dependermos do “chefe da família”?

A cada dia no meu consultório eu penso em dar uns sopapos nessas digníssimas senhoras que queimaram os sutiãs. Eu trabalho 10h por dia, ou mais, chego sempre depois do meu marido e ainda preciso estar bonita, cheirosa, bem cuidada, dar conta de ser esposa, de estar bem disposta para tudo, cuidar da casa e, ainda, nos meus horários vagos (que geralmente são durante a madrugada), pensar e pensar sobre o próximo dia, os pacientes, o que está faltando no consultório, etc.

Enfim, administrar uma vida composta de três turnos de trabalho. E, detalhe: ainda não sou mãe. Logo me considero em vantagem em relação a outras mulheres que fazem tudo isso e ainda exercem com maestria a função. Em resumo, cansa ser mulher nos dias de hoje.

Porém, quando eu vejo que eu realmente alcancei minha independência, que não dependo do meu marido, não dependo dos meus pais e quando vejo que todos os que me excluíram anos atrás estão numa situação um pouco diferente da minha, eu agradeço pela Revolução Feminista.

A única quebra de contrato que houve na minha história de vida foi a de “não depender de relações amorosas”.

É a minha relação de amor com a Odontologia que me permite ser como meus pais pediram que eu fosse um dia. Foi com ela que eu me casei, é nela que eu penso ao acordar e antes de dormir, é ela que me preenche quando todas as outras relações da minha vida parecem ruir.

Já me declarei inúmeras vezes, mas certa vez li que o amor é uma plantinha que precisa ser regada todos os dias.

Então, deixo aqui mais uma: Eu AMO a Odontologia! Eu amo o que eu faço! Eu amo sorrisos e todos os sorrisos que meu trabalho me proporciona, todos os dias.

“Prometo-te ser fiel, até que a morte nos separe, por todos os dias da minha vida.”

#euamoodonto

*Juliana Lemes, graduada pela UNESP-SJC, atua em clínica geral e estética dental. Dentista 10h por dia, “escritora” nas horas vagas e “maquiadora” de vez em quando. Das resinas, dos clareamentos, dos sorrisos e dos pincéis!

Publicado por
Dra. Juliana Lemes

Graduada pela UNESP-SJC e atua em clínica geral e estética dental.

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