A cavidade bucal é sede de diversas patologias de etiopatogenias variadas. Dentre essas, os crescimentos teciduais estão entre as lesões mais comuns, sendo decorrentes de inflamação ou de alterações genéticas.
Em ambas as situações ocorre uma proliferação celular, no entanto, quando decorrentes de inflamação, são denominados “processos proliferativos não neoplásicos”, e a existência de sinais de inflamação e a associação de um provável agente etiológico constitui um facilitador do diagnóstico dessas lesões.
Além disso, vale ressaltar que nos processos proliferativos não neoplásicos a proliferação celular ocorre em células normais e de forma controlada. Pois, diante de uma proliferação celular em células alteradas geneticamente, a proliferação adquire particularidades como autonomia e descontrole, dando origem às neoplasias verdadeiras.
Popularmente as neoplasias também são conhecidas como “tumores”, se diferenciando dos outros tipos de crescimentos teciduais pela sua autonomia de proliferação.
Do pontos de vista clínico, evolutivo e de comportamento, as neoplasias são divididas em duas grandes categorias: benignas e malignas. Continue a leitura e conheça mais sobre estas lesões na cavidade bucal.
Neoplasias benignas
As neoplasias benignas despertam grande interesse por sua frequência e pelas diferentes consequências que podem trazer. Podendo provocar compressão de órgãos, obstrução de passagens, secreção de substâncias e até mesmo morte.
Na maioria das vezes, de etiologia desconhecida, apresentam-se como pápulas, nódulos ou tumores de contorno nítido, limites bem definidos, superfície regular e uniforme, coloração homogênea, sem ulcerações ou sangramentos espontâneos.
Sua nomenclatura é baseada na origem celular, arquitetura microscópica ou padrão macroscópico, acrescentando-se o sufixo OMA. Exemplo, se a célula de origem é um osteoblasto, a neoplasia benigna é denominada osteoblastoma.
As células das neoplasias benignas são semelhantes às células do tecido de origem, logo são classificadas como células bem diferenciadas. Esse grau de diferenciação celular interfere na taxa de crescimento das neoplasias.
Sendo assim, as neoplasias benignas possuem crescimento lento, expansivo e limitado. Não sendo capazes de invadir os tecidos adjacentes e nem mesmo disseminarem (metastizarem) para outros locais. Consequentemente, o tratamento cirúrgico envolve a remoção total da lesão com uma margem de segurança pequena, sendo seu prognóstico bastante favorável.
Neoplasias malignas
As neoplasias malignas ou tumores malignos são conhecidos popularmente como “Câncer”. O termo Câncer vem do grego “Karkinos” que significa “caranguejo”. A associação da doença ao termo foi feita por um médico, farmacêutico e filósofo romano, Claudio Galeno. Pois, segundo ele, os aspectos do tumor maligno assemelham-se à figura do caranguejo, bem como ao fato da doença ser sorrateira e agressiva, prendendo-se à vítima e destruindo-a até o fim.
As neoplasias malignas são a segunda causa de morte no Brasil. E de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) são esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência.
Dado o impacto que tudo isso tem na população, os esforços têm sido direcionados para encontrarem modos mais eficazes de se enfrentar a doença. Como medidas preventivas, aprimoramento do diagnóstico e novas modalidades de tratamento.
A etiologia das neoplasias malignas envolve fatores hereditários e fatores ambientais. Com uma influência muito maior dos fatores ambientais quando comparados com os fatores hereditários. Ou seja, diferente do que a maioria das pessoas pensa, a forma como você vive é mais importante do que a sua herança genética.
Clinicamente os tumores benignos apresentam-se das mais variadas formas, geralmente assimétricos, de limites indefinidos, superfície irregular, coloração heterogênea, com presença de áreas ulceradas e sangramentos espontâneos.
Assim como as neoplasias benignas, sua nomenclatura é baseada na origem celular. No entanto, quando de origem mesenquimal são chamados “Sarcomas” e quando de origem epitelial são chamados “Carcinomas”. Exemplo, um tumor maligno originado de células mesenquimais ósseas é denominado ostessarcoma, e um tumor maligno originado de células epiteliais da camada espinhosa é denominado carcinoma espinocelular.
As células das neoplasias malignas, geralmente, não se assemelham às células do tecido de origem, podendo apresentar células com variados graus de diferenciação. Desde bem diferenciadas até indiferenciadas ou anaplásicas, as quais variam bastante no tamanho e na forma.
Esse grau de diferenciação mais intenso, faz com que os tumores malignos apresentem um crescimento rápido e infiltrativo. Essa capacidade de invasão dificulta o tratamento cirúrgico, exigindo que a remoção seja feita com margem de segurança extensa.
Além disso, o comportamento invasivo favorece a metástase, a qual envolve a disseminação das células tumorais por meio de vasos sanguíneos, vasos linfáticos ou pelas cavidades corporais. O que faz com que as neoplasias malignas sejam de difícil tratamento e apresentem um prognóstico, na maioria dos casos, não favorável.
Neoplasias Benignas x Neoplasias Malignas
Na maioria dos casos, as características macro e microscópicas das neoplasias, assim como os respectivos comportamentos, permitem que elas sejam separadas em benignas e malignas. No quadro a seguir você encontra as principais diferenças dessas lesões.
De formas geral, ao comparar as neoplasias benignas e malignas, pode-se dizer que as benignas geralmente não são letais nem causam sérios transtornos para o indivíduo; por isso mesmo, podem evoluir durante muito tempo. As malignas em geral têm crescimento rápido, muitas vezes disseminam-se no organismo (metástases) e muitas provocam perturbações homeostáticas graves que acabam levando o indivíduo à morte.
Conduta do Cirurgião-Dentista
Diante de neoplasias, sejam elas benignas ou malignas, o ideal é que seja feita uma biópsia incisional, removendo um fragmento da lesão, para que a análise histopatológica confirme a hipótese clínica e seja feita o tratamento correto.
Leia o texto: “Biópsia na Odontologia: passo a passo” Disponível em: https://blog.dentalspeed.com/biopsia-na-odontologia-passo-a-passo/
Quando confirmado o diagnóstico de neoplasia benigna, o Cirurgião-Dentista pode, desde que se sinta apto, realizar a remoção cirúrgica total da lesão com uma margem de segurança pequena.
Diante de lesões malignas, confirmadas histopatologicamente, o Cirurgião-Dentista não pode atuar no tratamento cirúrgico, devendo encaminhar o paciente para um cirurgião de cabeça e pescoço.
Geralmente os profissionais das áreas de patologia, estomatologia e cirurgia bucomaxilofacial são os cirurgiões-dentistas que atuam com maior frequência nessas situações.
Levando em conta a frequência significativa das neoplasias benignas e malignas, é de grande importância que os Cirurgiões-Dentistas em geral, independente da área de atuação, estejam atentos e saibam identificar as características dessas lesões para que possam contribuir para o diagnóstico precoce, encaminhando o paciente, o quanto antes para tratamento.
Referências:
Filho GB. Bogliolo – Patologia Geral. (6th edição). Grupo GEN; 2018.
Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro. 2022.
Marcucci G. Fundamentos de Odontologia – Estomatologia. (3rd edição). Grupo GEN; 2020.
Kumar V, Abbas A, Aster J. Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças. (9th edição). Grupo GEN; 2016.
Deixe um comentário