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Manifestações Bucais de Infecções Sexualmente Transmissíveis

Manifestações orais de DST
Manifestações orais de DST

Manifestações orais de DST

O sexo oral é visto pela grande maioria como uma opção “mais segura” de proporcionar e receber prazer. Talvez porque o risco de uma gravidez indesejada seja nulo. No entanto essa prática sexual assim como qualquer outra pode transmitir uma grande variedade de doenças.

Pesquisas mostram que embora a grande maioria da população saiba a importância da utilização dos preservativos, um número muito baixo de pessoas faz uso na prática. E quando se trata de sexo oral isso se torna ainda mais assustador.

Segundo estudos realizados pelo Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP, o Brasil está acima da média mundial quando o assunto é sexo oral, apresentando cerca de 50% de adeptos praticantes contra 33% no resultado global. O grande problema é que cerca de menos de 10% desse grupo afirma fazer uso de preservativos.

Não é à toa que o Brasil tem apresentado uma curva ascendente no número de casos de pessoas infectadas por doenças sexualmente transmissíveis.

Talvez porque grande parte da população não saiba que apesar do risco de contágio no sexo oral ser menor do que no sexo vaginal ou anal, o simples contato da boca com a pele ou secreção pode ser suficiente. Pois mesmo, os microrganismos estando em maior concentração no esperma e no sangue, também existe a possibilidade de infecção com a secreção expelida antes da ejaculação ou pela secreção vaginal.

De acordo com o Ministério da Saúde, o risco aumenta com a presença de aftas ou ferimentos pequenos causados pela escova de dentes ou alimentos duros. As Infecções Sexualmente transmitidas (ISTs), antigamente chamadas de Doenças Sexualmente Transmissíveis englobam uma variedade de patologias provocadas por vírus, bactérias e outros microrganismos. Sendo de grande importância que o cirurgião dentista saiba identificá-las para orientar e encaminhar os pacientes infectados, ou até mesmo para tratá-los.

Contudo, para identificarmos é necessário conhecermos essas patologias, assim como suas manifestações clínicas. Logo, serão abordadas nesse texto as ISTs mais comumente transmitidas por sexo oral.

Infecções Sexualmente Transmitidas (ISTs) Causadas por vírus

HPV

O HPV (papilomavírus humano) engloba mais de cem tipos diferentes de vírus que podem provocar a formação de verrugas na pele e nas regiões oral (lábios, boca, cordas vocais etc.), anal, genital e da uretra.

Clinicamente pode ser assintomática ou provocar o aparecimento de verrugas isoladas ou em grupos com aspecto parecido com o de uma pequena couve-flor.

As lesões orais apresentam-se como pápulas ou nódulos, assintomáticos, de superfície verrucosa, coloração normocorada ou esbranquiçada. São encontradas com maior frequência nas regiões de assoalho bucal, palato duro, palato mole e região de orofaringe.

Essas lesões quando classificados como de alto risco podem ser vistas como precursoras do câncer de boca e região de orofaringe.

Assim como, as lesões genitais de alto risco, são vistas como possíveis precursoras do câncer de colo de útero e de pênis A transmissão se dá predominantemente através da saliva e principalmente por via sexual.

Caso a pessoa esteja com uma lesão primária, ela possui uma alta carga viral e no sexo oral, só pela fricção já é o suficiente para transmitir, não importa se você está praticando ou recebendo o carinho.

Em relação ao tratamento, não existe um medicamento que mate ou elimine o vírus, muitas vezes ele é eliminado sem que a pessoa ao menos saiba que o possuía.

O melhor caminho é a prevenção por meio de preservativos e através da vacinação.

Herpes

O herpes simples é uma infecção causada pelo vírus HSV 1 e 2. Acima da cintura, geralmente a maior incidência é do herpes tipo 1 e abaixo da cintura do herpes tipo 2, mas com o sexo oral sem proteção começamos a observar casos de herpes tipo 2 na cavidade oral.

Clinicamente apresentam-se como lesões vesicobolhosas, que dependendo do estágio podem ser encontradas ulceradas ou com presença de crosta na superfície.

Extremamente dolorosas acometem comumente região nasolabial, lábios superior e inferior, região de palato e áreas genitais. A transmissão ocorre pelo contato com as lesões, principalmente na fase que contém líquido, portanto, pode ocorrer por contato direto por meio do beijo e sexo oral, e também de forma indireta por meio de utensílios ou objetos contaminados.

O herpes não tem cura, e a ocorrência das crises está intimamente relacionada com a imunidade do hospedeiro, entre outros fatores predisponentes.

Evitar contato direto com as lesões na fase de vesículas e o uso de preservativos durantes o sexo oral é a forma de prevenção mais indicada.

Hepatites

As hepatites virais tratam-se de infecções que atingem o fígado, causando alterações leves, moderadas ou graves. Na maioria das vezes são processos silenciosos e assintomáticos.

As manifestações orais são pouco comuns, mas podem se apresentar na forma de úlceras, hiperpigmentações, petéquias e hiperqueratoses. Além disso algumas doenças como a sialoadenite, o líquen plano, o eritema multiforme e a Doença de Behçet também podem ser observadas associadas aos quadros de hepatites.

Dentre as mais comuns no Brasil, estão as hepatites causadas pelos vírus A, B, C. O vírus da hepatite A é facilmente adquirido por via oral através da água ou alimentos contaminados.

Nos casos dos vírus da hepatite B e C é necessário contato com o sangue por meio de relação sexual ou por seringas e outros objetos perfurocortantes.

Para transmissão por sexo oral é necessário que haja uma ferida ou algum outro processo que permita o contato com o sangue contaminado.

As hepatites B e C frequentemente se tornam crônicas, por nem sempre apresentarem sintomas. Isso faz com que a doença possa evoluir por décadas sem o devido diagnóstico.

No entanto, já existem testes rápidos para a detecção da infecção, disponíveis inclusive no SUS.  A hepatite B não tem cura, mas existe a vacinação.

No caso da hepatite C não há uma vacina disponível, mas há medicamentos que permitem a cura. Além disso, o uso de preservativos deve ser sempre adotado como forma de prevenção.

HIV

Ter o HIV não é a mesma coisa que ter Aids, pois há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, mas não deixam de ser transmissores do vírus.

O vírus HIV ataca o sistema imunológico, sendo as células mais atingidas os linfócitos T CD4+. Isso provoca uma queda progressiva no sistema de defesa e deixando o indivíduo susceptível às diversas doenças oportunistas.

Sendo assim, clinicamente as manifestações são bastante variáveis, podendo ser observadas na cavidade bucal desde hiperpigmentação da mucosa, aftas, diferentes tipos de infecções oportunistas (candidíase, herpes simples, herpes zoster) até mesmo tumores malignos como linfoma e sarcoma de Kaposi. Sendo a leucoplasia pilosa encontrada de forma bilateral na língua considerada um sinal patognomônico da AIDS.

A transmissão ocorre por sexo vaginal ou anal desprotegido. Ainda é controverso se o sexo oral é capaz de transmitir o vírus, mas existem relatos de pessoas que se infectaram ao engolir esperma ou ainda devido ao contato direto com sangue contaminado. Desse modo, recomenda-se sempre a utilização de preservativos em todas as formas de prática sexual.

Infecções Sexualmente Transmitidas (ISTs) Causadas por bactérias

Clamídia

É uma infecção causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que provoca inflamação nos canais genitais e urinários, podendo causar infertilidade. Clinicamente pode ser assintomática ou apresentar dor ou ardor ao urinar, micção frequente, presença de secreção.

Quando acomete a cavidade bucal, particularmente a região da garganta, pode apresentar áreas avermelhadas, doloridas e dificuldade para engolir.

Pode ser transmitida durante o sexo oral para ambos os participantes, mas o contato com o esperma eleva os riscos.  O tratamento trata-se do uso de antibióticos específicos o qual deve ser realizado no infectado e em seu parceiro.

Prevenção Clamídia

Como não existe vacina, a melhor forma de prevenção é o uso de preservativos.

Gonorreia

Também chamada de blenorragia é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Neisseria gonorrheae, que infecta especialmente a uretra.

A bactéria também pode infectar o revestimento do colo do útero e a prática de sexo anal e oral pode levá-la para a região do reto e da garganta.

Considerando o fato de na maioria dos casos, apresentar-se como uma infecção assintomática, há poucos relatos que descrevem as manifestações orais. No entanto, alguns autores chamam de “estomatite gnorreal”, manchas avermelhadas que podem aparecer na mucosa bucal, acompanhadas de sintomas como secura e ardência.

A transmissão ocorre por contato sexual, por meio da ejaculação ou secreção ou ainda, apenas pelo contato direto.

No caso do sexo oral, a transmissão ocorre para os dois envolvidos no ato. O tratamento envolve geralmente uma associação de antibióticos. Sendo importante que tanto a pessoa infectada quanto o seu parceiro realizem o tratamento mesmo que não apresente sintomas.

Prevenção gonorreia

A prevenção esta ligada diretamente ao uso de preservativos inclusive durante o sexo oral.

Sífilis

É uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum, a qual pode apresentar várias manifestações clínicas e diferente estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária). Nos estágios primário e secundário a possibilidade de transmissão é maior.

Clinicamente, na fase primária podem ser observadas lesões assintomáticas, endurecidas, de superfície ulcerada acometendo lábios, língua ou garganta.

Na fase secundária são mais comuns placas mucosas, áreas macupapulares vermelhas ou até mesmo áreas necrosadas nas regiões dos lábios, língua, mucosa e palato. E na fase terciária podem ser observadas áreas de destruição ou perfuração no palato e glossite intersticial.

A sífilis pode ser transmitida por relação sexual desprotegida ou para a criança durante a gestação ou parto. O contágio por sexo oral também é bastante comum, não sendo preciso ter lesão ou ferida na boca, pois, é possível pegar sífilis até em pele íntegra, caso a bactéria esteja ali e exista contato.

Na presença de ejaculação, aumenta o risco de transmissão, por despejar uma quantidade maior de bactérias na boca de quem está fazendo o sexo oral. No entanto, tanto quem recebe quanto quem faz pode se infectar.

Já existem testes rápidos para a detecção da infecção, disponíveis inclusive no SUS, considerando que a sífilis deve ser tratada precocemente, pois, pode comprometer vários órgãos como olhos, pele, ossos, coração e sistema nervoso.

Prevenção Sífilis

O tratamento é feito com antibióticos, mas o uso de preservativos durante as relações sexuais é a maneira mais segura de prevenir a doença.

Prevenção das ISTs

Especialistas recomendam que todos indivíduos com vida sexual ativa sejam testados para HIV e demais ISTs no mínimo uma vez ao ano.  Ressaltando que na existência de múltiplos parceiros e/ou parceiras, essa frequência deve ser ainda maior, como por exemplo um rastreamento trimestral.

Pois, ao serem diagnosticadas precocemente, principalmente os casos assintomáticos, é possível realizar o tratamento correto, obtendo a cura, quando existente, e quebrando assim a cadeia de transmissão.

Vale destacar que quando se trata de infecções sexualmente transmissíveis, não importa idade, estado civil, classe social, identidade de gênero, orientação sexual, credo ou religião, qualquer um que tem relação sexual desprotegida pode contrair, assim como uma pessoa pode estar aparentemente saudável, mas pode estar infectada.

O uso de preservativos, masculino ou feminino, em todas as relações sexuais (orais, anais e vaginais) é o método mais eficaz para evitar a transmissão das ISTs. Manter a carteira de vacinação em dia é outro jeito bastante eficaz de evitar algumas dessas infecções, como as vacinas para o HPV e para a Hepatite B.

Outras estratégias de prevenção também têm sido estudadas, como profilaxias com antibiótico e o uso de antissépticos bucais pré ou pós-exposição.

Alguns especialistas também aconselham como prevenção:

  • Evitar sexo oral se tiver alguma lesão ou inflamação na boca, como afta e gengivite. Ou ainda, se houver qualquer tipo de sangramento;
  • Evitar o uso de fio dental e realização de escovação antes da prática do sexo oral, porque estes podem machucar o tecido gengival, elevando o risco de infectividade. Sendo mais indicado o uso apenas de enxaguantes bucais;
  • Evitar a ejaculação na boca e a prática durante o período menstrual;

Com a incidência cada vez maior de pessoas infectadas, independente da área de atuação na Odontologia, nós cirurgiões dentistas, temos como dever zelar sempre pela saúde dos nossos pacientes. Isso inclui identificar qualquer tipo de manifestação dessas ISTs na cavidade bucal e áreas afins.

A Odontologia vai muito além dos dentes, por isso, seja um dentista de pessoas, e não de dentes!

Publicado por
Profª Dra. Natália Galvão Garcia

Cirurgiã-dentista pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), Mestre, Doutora e Pós-Doutora pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP), Professora Dra. do curso de Odontologia do Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS – MG). Atua no consultório nas áreas de Diagnóstico Oral, Cirurgia Oral Menor, Pacientes Especiais e Laserterapia. CROMG: 56425

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