Anestésico odontológico para cardiopatas, hipertensos e asmáticos

Odontologia

Anestésicos odontológicos e intercorrências

Os anestésicos locais são usados diariamente nos consultórios odontológicos, nas diferentes situações clínicas. No entanto, geralmente, os profissionais têm dúvidas na hora de escolher o anestésico ideal diante de um paciente com deficiência.

É consenso na literatura que não se pode indicar o mesmo anestésico para todos os pacientes, dadas suas características individuais, sua condição sistêmica normal, gestacional ou patológica.  Uma vez que o uso inadequado do anestésico pode levar a sérios riscos para a saúde do paciente e até mesmo ao óbito.

Sendo assim, o profissional deve estar apto a eleger o anestésico ideal para cada situação e evitar qualquer tipo de intercorrência que coloque em risco a saúde do paciente.

Anestésico para gestantes

Quanto se trata de atendimento a pacientes gestantes, muitos cirurgiões-dentistas ainda demostram insegurança. Pois, sabe-se que os fármacos de uso odontológico, como anestésicos locais, passam da mãe para o feto por difusão passiva, por serem moléculas de baixo massa molecular e lipossolúveis.

Os fatores que interferem na quantidade e na velocidade de transferência dos anestésicos via placenta são:

  • Tamanho da molécula – devido ao seu tamanho a prilocaína atravessa mais rapidamente do que os demais anestésicos, podendo causar em doses excessivas um quadro de metemoglobinemia.
  • Grau de ligação do anestésico às proteínas plasmáticas – parte do anestésico absorvido se liga as proteínas plasmáticas restringindo sua passagem para a placenta. Logo, quanto maior a ligação, menor a passagem via placenta. A lidocaína apresenta uma ligação proteica de 64% enquanto a prilocaína apresenta uma ligação de 55%.

O metabolismo dos anestésicos também influencia na sua toxicidade, quando mais rápido for a sua metabolização, melhor. Diante desses aspectos a lidocaína com vasoconstritor (epinefrina) – Lidocaína 2% com epinefrina 1:100.000 ou 1:200.000 – é considerada o anestésico preferencial para ser utilizado nas pacientes gestantes, considerando sempre o bom senso em relação à quantidade máxima (Tabela 1).

A articaína também é um anestésico local que apresenta baixa lipossolubilidade, alta taxa de ligação proteica e rápida metabolização e eliminação renal, características consideradas ideias para uma paciente gestante, no entanto, ainda faltam evidências clínicas que comprovem isso.

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Anestésico para pacientes cardiopatas

O número de pessoas portadoras de doenças cardiovasculares tem aumentado cada dia mais, acarretando também no aumento destes pacientes no consultório odontológico.

Muitas vezes por não saber o que fazer ou até mesmo para se resguardar, o cirurgião-dentista opta por solicitar uma “liberação médica” para realização do tratamento odontológico. E na grande maioria das vezes recebe do médico a seguinte recomendação: “não utilizar anestésico com vasoconstritor”.

A epinefrina em altas doses, principalmente quando administrada intravascular, pode acarretar elevação brusca da PA, frequência cardíaca, força de contração ventricular e débito cardíaco.

No entanto, a epinefrina em pequenas quantidades praticamente não resulta em nenhuma alteração na pressão arterial. Além disso, sabe-se que diante de uma situação de dor ou de estresse o organismo aumenta a secreção de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) em até 40 vezes.

Vale lembrar que o vasoconstritor promove maior duração do efeito anestésico e contribui para redução do sangramento, consequentemente favorecendo um tratamento mais seguro e confortável para o paciente.

Mas qual seria a dose máxima de epinefrina, contida na solução anestésica, que poderia ser utilizada com segurança em um paciente com doença cardiovascular controlada?

A dose máxima é 0,04mg por sessão de atendimento, ou seja, se o anestésico for de concentração 1:100.000 ele possui 0,018mg de epinefrina, podendo ser utilizado 2 tubetes. Se for na concentração de 1:200.000 possui 0,009mg de epinefrina, podendo ser utilizado até 4 tubetes. A concentração de 1:50.000 contém 0,036mg e deve ser evitada.

Anestésico para pacientes com problemas cardiovascular

Sendo assim, em pacientes com alterações cardiovasculares como insuficiência cardíaca congestiva, angina, infarto do miocárdio, podem ser utilizados os anestésicos:

  • Lidocaína 2% + epinefrina 1:100.000 (máximo 2 tubetes);
  • Lidocaína 2% + epinefrina 1:200.000 (máximo 4 tubetes);
  • Articaína 4% + epinefrina 1:100.000 (máximo 2 tubetes);
  • Articaína 4% + + epinefrina 1:200.000 (máximo 4 tubetes);
  • Prilocaína 3% + Felipressina 0,03UI/mL (máximo 3 tubetes)ç

Importante: Em pacientes com arritmia cardíaca, a epinefrina é contraindicada, devendo ser utilizada a prilocaína 3% com felipressina. E dependendo do procedimento odontológico, mepivacaína 3% sem vasoconstritor (Tabela 1).

Anestésico para pacientes com hipertensão

De acordo com o Ministério da Saúde, atualmente, no Brasil existem 43 milhões de hipertensos, distribuídos de acordo com a faixa etária:

  • Cerca de 30% dos adultos;
  • 50% da população acima de 50 anos;
  • 60% da população acima de 60 anos.

A pressão arterial é consequência da força que o sangue faz contra as paredes das artérias para conseguir circular pelo sistema. Quando o coração se contrai (sístole) para expulsar o sangue de seu interior, a pressão nas artérias atinge o valor máximo: é a pressão máxima ou sistólica.

Quando sua musculatura relaxa (diástole) para permitir que o sangue volte para encher suas cavidades, a pressão cai para valores mínimos: é a pressão mínima ou diastólica.

Logo, quando os valores obtidos estiverem elevados, a pressão deverá ser medida 1 a 2 minutos mais tarde. Se permanecerem elevados, o ideal é medi-la novamente em ambiente doméstico. Desse modo, é preciso muita cautela antes de rotular uma pessoa como hipertensa.

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De acordo com os critérios internacionais ordenados na tabela abaixo, a pressão arterial pode ser classificada como:

Critérios internacionais ordenados na tabela sobre pressão arterial

Hipertensos no estágio I

  • Lidocaína 2% + epinefrina 1:100.000 (máximo 2 tubetes)
  • Lidocaína 2% + epinefrina 1:200.000 (máximo 4 tubetes)
  • Articaína 4% + epinefrina 1:100.000 (máximo 2 tubetes)
  • Articaína 4% + + epinefrina 1:200.000 (máximo 4 tubetes)
  • Prilocaína 3% + Felipressina 0,03UI/mL (máximo 3 tubetes)

Hipertensos no estágio II

  • Prilocaína 3% + Felipressina 0,03UI/mL (máximo 2-3 tubetes)

Obs: Procedimentos eletivos devem ser evitados. Os procedimentos de urgência e emergência devem ser realizados de forma rápida, máximo de 30 min e sob sedação por via oral ou por óxido nitroso para evitar a elevação da PA. Hipertensos no estágio III ou acima só devem ser atendidos em casos de urgência e em ambiente hospitalar.

Anestésico para pacientes asmáticos

A asma é uma doença obstrutiva crônica que apresenta como principais sinais e sintomas, falta de ar, sibilos (chiados), dor no peito, tosse seca ou produtiva. De acordo com as suas características e frequência os quadros são classificados como asma leve, moderada e severa.

Nestes casos, é importante investigar durante a anamnese a ocorrência de alergias a materiais odontológicos, medicamentos ou substâncias que possam vir a desencadear uma crise durante o atendimento.

As sedações por meio de óxido nitroso e oxigênio pode ser utilizadas para os casos classificados como asma leve e moderada. Mas deve ser evitada nos casos de asma severa, pois o risco de hipóxia é maior.

O uso de anestésicos (lidocaína, mepivacaína ou articaína) com epinefrina não é contraindicado, no entanto, deve-se ter cuidado com os pacientes que fazem uso de corticosteroides e são alérgicos aos sulfitos. Nesses casos, é indicado utilizar prilocaína 3% com felipressina 0,003UI/ml (Tabela 1).

Tabela Anestésicos Odontológicos

Fique atento às particularidades e necessidades de seus pacientes. Trate-o como você gostaria de ser tratado, sempre com cuidado e respeito. Seja um cirurgião-dentista de pessoas e não apenas de dentes!

Até a próxima!

Referência: Terapêutica Medicamentosa em Odontologia – Eduardo Dias Andrade

Cirurgiã-dentista pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), Mestre, Doutora e Pós-Doutora pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP), Professora Dra. do curso de Odontologia do Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS – MG). Atua no consultório nas áreas de Diagnóstico Oral, Cirurgia Oral Menor, Pacientes Especiais e Laserterapia. CROMG: 56425
Profª Dra. Natália Galvão Garcia
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