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Saúde Bucal em Pacientes com Câncer

Outubro rosa e câncer bucal na Odontologia

O câncer é considerado o principal problema de saúde pública no mundo, onde a cada ano cerca de 19 milhões de pessoas são diagnosticadas.

No Brasil, o câncer chegou à posição de segunda maior causa de mortes por doença, e de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se para este ano de 2022 o surgimento de mais de 600 mil novos casos no país.

Diante de dados tão alarmantes, é importante que os profissionais de Odontologia estejam preparados para atender pacientes oncológicos no consultório odontológico.

Ao longo da matéria você vai conferir as principais manifestações bucais do câncer, os efeitos colaterais decorrentes do tratamento antineoplásico e a importância do acompanhamento odontológico antes, durante e após o tratamento oncológico.

Manifestações bucais do câncer

O câncer de cabeça e pescoço está entre os tipos mais comuns, e particularmente o câncer de boca está entre os seis tipos mais frequentes nos homens.

Apesar de o tratamento ser realizado por um médico cirurgião de cabeça e pescoço, o cirurgião-dentista pode contribuir de forma significativa para o diagnóstico precoce da doença.

Afinal, as principais alterações ocorrem no meio bucal e muitas vezes podem ser identificadas em consultas odontológicas de rotina.

Assim, é importante ficar alerta para:

  • Lesões na cavidade bucal que não cicatrizam em até 15 dias;
  • Manchas vermelhas ou esbranquiçadas;
  • Presença de nódulos/caroços;
  • Inchaços que dificultam o uso de próteses;
  • Rouquidão persistente;
  • Sensação de algo preso na garganta;
  • Dormência ou sensibilidade na cavidade bucal;
  • Falta de mobilidade da língua.

Em casos de suspeita de lesões malignas, o cirurgião-dentista pode e deve realizar uma biópsia incisional e enviar o material coletado para análise anatomopatológica. Mas, caso não se sinta preparado para realizar esse procedimento, deve encaminhar o paciente para realização da biópsia com um cirurgião-dentista estomatologista ou patologista.

Acompanhamento odontológico pré-tratamento oncológico

O acompanhamento odontológico é indicado para todo tipo de paciente oncológico, não apenas para pacientes com tumores na região da cabeça e pescoço.

Deve ter início antes de o paciente se submeter ao tratamento oncológico, com o intuito de eliminar focos de infecção que possam prejudicar o processo terapêutico.

Neste caso, a etapa de pré-tratamento de pacientes oncológicos consiste em:

  1. Esclarecimento sobre as possíveis alterações bucais que o paciente poderá apresentar durante o tratamento.

Afinal, essas condições patológicas geralmente ocorrem nos períodos de administração de fármacos, portanto, são condições temporárias.

  • Atuação clínica, principalmente na adequação do meio bucal antes do paciente iniciar a quimioterapia e/ou radioterapia.

O cirurgião-dentista deve realizar uma avaliação odontológica minuciosa, buscando identificar indícios de infecções como doença periodontal ou lesões de cáries profundas.

No caso de dentes com mobilidade, o ideal é que sejam removidos antes de iniciar o tratamento oncológico, pois não são indicados procedimentos invasivos – como uma exodontia – durante o período de imunossupressão.

A remoção de aparelho ortodôntico fixo também é indicada, uma vez que contribui para o acúmulo de placa bacteriana e poderá ferir a mucosa debilitada. Outros procedimentos como correção de próteses mal adaptadas, controle de placa bacteriana, raspagens periodontais, tratamento endodôntico, etc. precisam ser feitos previamente para que não aumentem as complicações bucais dos pacientes durante o tratamento oncológico.

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Acompanhamento odontológico durante tratamento oncológico

Devido à baixa imunidade apresentada pelo paciente durante o tratamento oncológico, a cavidade bucal se torna um ambiente que favorece o desenvolvimento de infecções.

É papel do cirurgião-dentista orientar seus pacientes sobre os cuidados com a saúde bucal neste período.

Pacientes em tratamento oncológico precisam realizar a higiene oral de forma ainda mais efetiva, a fim de reduzir os riscos de eventuais complicações.

Além disso, é necessário acompanhar, identificar e tratar desconfortos bucais e infecções oportunistas para que não interfiram no tratamento.

Quanto à higienização oral diária, indica-se:

  • Escovar os dentes 4 (quatro) vezes ao dia, usando escovas de cerdas macias (nylon);
  • Utilizar pasta de dentes não abrasivas e contendo flúor;
  • Fazer uso correto do fio dental, seguindo as orientações do dentista;
  • Usar enxaguatórios sem álcool ou fazer gargarejos com bicarbonato de sódio.

Em casos de pacientes oncológicos hospitalizados, a presença do cirurgião-dentista na equipe hospitalar é fundamental para minimizar os riscos para o paciente.

O profissional irá atuar de forma curativa e preventiva na saúde bucal destes indivíduos, reduzindo o desconforto e evitando que problemas mais graves se desenvolvam a partir da cavidade bucal, como a septicemia (infecção generalizada).

Efeitos da radioterapia e quimioterapia na cavidade bucal

Os medicamentos quimioterápicos e a radiação ionizante da radioterapia têm como principal objetivo a destruição das células neoplásicas, impedindo seu desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, células normais do paciente também podem ser afetadas, então, é comum que pacientes submetidos a quimioterapia e a radioterapia, apresentem efeitos colaterais na cavidade bucal.

Esses efeitos variam de paciente para paciente e dependem de características específicas como idade, localização do tumor, grau de malignidade, tipo de quimioterápico, duração do tratamento oncológico, etc.

Se não tratados, prejudicam a qualidade de vida do paciente e podem até mesmo dificultar o tratamento oncológico.

Dentre as principais manifestações bucais estão:

Mucosite

A Mucosite caracteriza-se pela inflamação de tecidos moles e poder ser observada em 40% dos pacientes que realizam a quimioterapia e entre 8% e 10% dos pacientes submetidos a radioterapia.

São observados eritema, edema, sensação de queimação e hipersensibilidade da mucosa bucal, que podem causar placas brancas descamativas e, consequentemente, úlceras no tecido mole.

Essa condição dolorosa impossibilita a nutrição e hidratação do paciente e isso interfere, diretamente, na capacidade de recuperação.

O tratamento da mucosite ainda é bastante discutido, mas a laserterapia de baixa potência tem sido bastante utilizada e apresentado excelentes resultados.

Disgeusia

Alteração ou perda do paladar também são comuns em pacientes oncológicos, onde o tratamento pode causar desde citotoxicidade, até atrofia das papilas gustativas.

Infecções fúngicas (candidíase)

Infecções fúngicas como a candidíase também são frequentes. Se manifestam na mucosa bucal como lesões brancas removíveis (pseudomembranosas) ou como placas vermelhas e lisas sobre o palato duro ou mole (forma atrófica).

O tratamento é feito a partir do uso antifúngicos locais ou sistêmicos.

Herpes simples recorrente

O herpes simples recorrente se manifesta apresentando lesões vesicobolhosas que se iniciam com prurido, vermelhidão e queimação, principalmente nos lábios, e posterior formação de lesão ulcerada e dolorosa.  

Para o tratamento, podem ser utilizados, antivirais, como o Aciclovir e a laserterapia.

Trombocitopenia

Problemas de coagulação sanguínea que pode causar sangramentos espontâneos nos tecidos. Embora rara, essa alteração pode ocorrer em pacientes com leucemia ou linfoma.

Nesses casos, o cirurgião-dentista deve ser muito criterioso em relação à necessidade de procedimentos cirúrgicos e estar apto para intervenções que tenham por objetivo a contenção do sangramento.

Acompanhamento odontológico pós-tratamento oncológico

Após finalizar o tratamento oncológico, o paciente não deve deixar de fazer o acompanhamento odontológico regular.

Neste sentido, é importante realizar uma avaliação bucal rigorosa, a fim de tratar eventuais problemas bucais e identificar possíveis complicações tardias do tratamento oncológico.

Procedimentos mais conservadores como remoções de cáries, restaurações estéticas e tratamentos endodônticos podem ser realizados. Por outro lado, exodontias devem ser evitadas durantes os primeiros anos após o tratamento.

Em casos de cânceres na região da cabeça e pescoço, o cirurgião-dentista também pode participar de cirurgias de reconstrução facial, bem como atuar na reabilitação protética de pacientes.

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Complicações tardias do tratamento oncológico

Mesmo após finalizar o tratamento contra o câncer, o paciente pode apresentar manifestações bucais tardias.

Veja a seguir as principais manifestações:

Hipossalivação

A diminuição do fluxo salivar favorece a mudança da microbiota bucal e torna o meio suscetível a processos infecciosos.

A hipossalivação também aumenta a possibilidade de aparecimento de lesões de cárie, já que não ocorre a devida lavagem da superfície dental e neutralização de ácidos produzidos pelas bactérias cariogênicas.

O tratamento vai depender da causa principal da hipossalivação, podendo incluir desde o uso de saliva artificial até a estimulação do fluxo salivar por meio da laserterapia.

Trismo

O trismo é um transtorno tardio da radioterapia de cabeça e pescoço que resulta na limitação da abertura bucal do paciente. A anomalia ocorre a partir da fibrose nos tecidos dos músculos da ATM.

Além de causar dores indesejadas, prejudica a fala e a alimentação, e até mesmo a realização de procedimentos odontológicos.

O tratamento pode incluir uso de analgésicos, relaxantes musculares, placas miorrelaxantes, fisioterapia diária, entre outros.

Sessões de laserterapia e ozonioterapia também são indicadas.

Cárie de radiação

A cárie de radiação é um efeito indireto da radioterapia. Surge na cavidade bucal a partir de uma combinação de fatores como a desmineralização do esmalte dentário, redução de fluxo salivar, higiene bucal precária e aumento de bactérias cariogênicas.  

O distúrbio é bem agressivo e afeta a coroa dentária acarretando a exposição de raiz. Apesar de ser um efeito tardio, muitas vezes é possível identificá-lo poucos meses após o fim do tratamento oncológico.

Sendo assim, visitas regulares ao dentista e uso de cremes e géis dentais com flúor são as melhores formas de prevenção.

Osteorradionecrose

A osteorradionecrose é um dos mais graves efeitos do tratamento oncológico, pois consiste na necrose de tecido ósseo.

Atinge mais frequentemente a mandíbula e, em alguns casos, a maxila. O paciente pode apresentar dor, parestesia, exposição óssea, eritema e edema em tecidos moles, formação de fístula e, em casos mais graves, fraturas patológicas.

O tratamento inclui irrigação da lesão com antissépticos,intervenção cirúrgica associada à oxigenoterapia hiperbárica e/ou fotobiomodulação.

Por fim, podemos perceber a importância do profissional de Odontologia tanto no diagnóstico precoce de câncer bucal quanto no acompanhamento de pacientes em todas as etapas do tratamento oncológico.

Sua presença em equipe multidisciplinar é imprescindível para controlar os efeitos adversos da radioterapia e quimioterapia na cavidade bucal, garantindo melhor qualidade de vida dos pacientes durante e após o tratamento.

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Referências:

IMPORTÂNCIA do Cirurgião-Dentista no tratamento de pacientes com câncer. APCD, [S. l.], p. 1-1, 1 jan. 2022. Disponível em: https://www.apcd.org.br/index.php/noticias/325/21-10-2016/importancia-do-cirurgiao-dentista-no-tratamento-de-pacientes-com-cancer. Acesso em: 15 set. 2022.

Lima DC, Saliba NA, Garbin AJI, Fernandes LA, Garbin CAS. A importância da saúde bucal na ótica de pacientes hospitalizados. Ciênc. Saúde Coletiva. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000700049

Winícius A. F. ARAÚJO1 ; Higor O. ROCHA1 ; Grace K. M. CARNEIRO2 ; Natália G. GARCIA3. Manifestações bucais em pacientes oncológicos. v. 30 n. 89 (2021): ROBRAC 30 anos. Disponível em: https://doi.org/10.36065/robrac.v30i89.1452

INSTITUTO Nacional de Câncer – INCA: Estatísticas de câncer. [S. l.], 23 jun. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros. Acesso em: 15 set. 2022.

PAIVA, M. D. E. B. et al. Complicações orais decorrentes da terapia antineoplásica. Arquivos em Odontologia Volume 46 l Nº 01 Janeiro/Março de 2010.

LESÕES orais cancerígenas podem ser identificadas em exame clínico e consulta de rotina odontológica. Conselho Federal de Odontologia, [S. l.], p. 1-1, 4 fev. 2022. Disponível em: https://website.cfo.org.br/lesoes-orais-cancerigenas-podem-ser-identificadas-em-exame-clinico-e-consulta-de-rotina-odontologica/?doing_wp_cron=1663365137.6194748878479003906250. Acesso em: 15 set. 2022.

Santos, C. C. S. et al. (2013). Condutas práticas e efetivas recomendadas ao cirurgião dentista no tratamento pré, trans e pós do câncer bucal. Curso de Odontologia da Universidade Paulista.

Protocolo de atendimento odontológico a pacientes oncológicos pediátricos – revisão de literatura. Revista de Odontologia da Unesp., v.36, n.3, p.275-280, 2007.

Texto escrito por Gabrielli Nery Wandscheer e revisado por Profª Dra. Natália Galvão Garcia (CRO-MG: 56425)

Publicado por
Gabrielli Nery Wandscheer

Formada em Administração pela Estácio, especialista em Marketing e redação técnica na área odontológica.

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