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Saiba como realizar atendimento odontológico em pacientes HIV positivo

O HIV  (sigla em inglês para human immunodeficiency virus) é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana. Trata-se, sobretudo, de um retrovírus com material genético constituído de RNA e de uma enzima chamada transcriptase reversa, capaz de produzir um DNA viral que se incorpora às células do portador. 

Desde 1982, quando houve o primeiro caso confirmado no Brasil, até hoje, o preconceito em relação à doença é muito presente no dia a dia dos portadores. A principal campanha relacionada ao tema é o Dezembro Vermelho.

Com seu início em 01 de dezembro, Dia Mundial da AIDS/HIV, essa iniciativa visa promover ações de prevenção à doença, bem como o fim da discriminação e estigma aos portadores do vírus.  

Neste artigo, vamos informar sobre as principais manifestações bucais, os cuidados e protocolos de atendimento aos pacientes soropositivos e as questões éticas e legais relacionadas ao HIV/AIDS na Odontologia.

HIV e Odontologia

Para abordar sobre as manifestações orais do HIV e o papel da Odontologia, é importante esclarecer a diferença entre HIV e AIDS.

O HIV é a sigla para o vírus descoberto na década de 80, trata-se de uma IST – Infecção Sexualmente Transmissível. Ou seja, sua forma de transmissão se dá, principalmente, por meio de relações sexuais desprotegidas (sem o uso de preservativos) com pessoas que já são portadoras do vírus.  

Contudo, o vírus também pode ser transmitido pelo compartilhamento de objetos perfurocortantes contaminados, acidentes ocupacionais e também por mães soropositivas na gestão, parto ou amamentação, quando não realizado um tratamento prévio. 

A AIDS trata-se de uma doença que pode acometer portadores de HIV, principalmente quando não há uma procura por tratamento.

O paciente com HIV passa a ter AIDS quando há um estágio avançado de comprometimento imunológico, manifestando infecções oportunistas, como por exemplo Criptococose, Tuberculose, Candidíase, etc.

A AIDS também costuma ser chamada de “doença silenciosa”, pois existem diversos portadores do vírus do HIV que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver AIDS. 

Umas das principais características do HIV é a baixa imunidade. O vírus age atacando o sistema imunológico do paciente, em especial os linfócitos T CD4+ do sangue, permitindo que as chamadas “doenças oportunistas” se desenvolvam.

Não há cura conhecida para a patologia, no entanto os tratamentos com terapia antirretroviral (TARV) são cada vez mais eficazes, permitindo que o portador conviva com o vírus e tenha uma maior qualidade de vida.

Aspectos éticos e legais do atendimento odontológico em paciente HIV positivo 

Lamentavelmente, o preconceito ainda é algo muito presente na vida de pessoas soropositivas, impactando no diagnóstico e na procura por tratamento.  

Como profissionais da saúde, cirurgiões-dentistas e equipe odontológica devem ter uma postura humana, profissional e ética perante o atendimento do paciente HIV positivo, promovendo desde tratamentos com foco em prevenção, até tratamentos mais específicos para as manifestações bucais causadas pelo vírus.

O próprio Código de Ética Odontológica (CEO), em suas disposições preliminares – Art. 2º informa que “A Odontologia é uma profissão que se exerce em benefício da saúde do ser humano, da coletividade e do meio ambiente, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto.” 

De antemão, a recusa de atendimento odontológico devido ao perfil sorológico do paciente trata-se de uma postura discriminatória e, ainda, constitui infração ética conforme Art. 11 do CEO.

Logo, o profissional de saúde que recusar atender pacientes nessa situação, além de estar sujeito às penas previstas pelos conselhos profissionais, também pode responder cível e criminalmente pelo ato. 

Manifestações Orais em pacientes HIV+

Conforme as últimas pesquisas realizadas pelo Departamento Nacional de DST/AIDS e Hepatites Virais, o número de pessoas soropositivas no Brasil ultrapassa 600 mil. Contudo, uma parte dessa população nunca teria feito teste para diagnóstico, não conhecendo sua sorologia. 

Dentre as manifestações ocasionadas pela infecção do HIV, a AIDS é a mais grave delas. Os primeiros indícios estão associados à queda de imunidade do paciente, deixando-o vulnerável a demais infecções.  

Assim, é comum que os pacientes apresentem manifestações bucais devido à baixa imunidade, logo, o papel do cirurgião-dentista é fundamental para um diagnóstico precoce da patologia.

Conheça as manifestações orais mais comuns:

Lesões ulcerativas 

Devido a imunossupressão, os pacientes podem apresentar úlceras aftosas. As lesões persistem entre uma a duas semanas, não costumam deixar cicatrizes após a cura. As ulcerações também podem ser causadas por medicamentos utilizados no tratamento de HIV. 

Os pacientes, ainda, podem manifestar ulcerações inespecíficas, é o caso da estomatite necrosante. As lesões, além de muito dolorosas, podem evoluir para necrose tecidual e eventual exposição óssea.

Neoplasias 

O Sarcoma de Kaposi é um tipo de câncer que pode acometer o paciente soropositivo, o qual costuma se apresentar no formato de nódulos arroxeados ou amarronzados na pele ou mucosa. Com a evolução dos antirretrovirais utilizados no tratamento da patologia, o tumor, antes muito agressivo, passou a ser mais controlado.  

Contudo, trata-se de um ponto de atenção para o cirurgião-dentista, afinal, em ¼ dos casos, a cavidade bucal é o primeiro local acometido. Além disso, pelo menos, metade dos pacientes com o tumor apresentam lesões bucais. O tratamento inclui radioterapia e quimioterapia, dependo do local e estágio da neoplasia. 

Infecções Fúngicas 

A Candidíase ou Candidose é a principal infecção fúngica em pacientes com HIV/AIDS, sendo observada em seu estágio mais precoce. 

Há três tipos de candidíase: 

  • Candidíase Pseudomembranosa; 
  • Candidíase Eritematosa; 
  • Candidíase Hiperplásica.

O paciente com candidíase não necessariamente é positivo para a patologia, contudo pode se tratar de um sinal de progressão da doença e de imunossupressão.  

Os pacientes soropositivos também podem apresentar quelite angular. A patologia pode ter diversas causas, como por exemplo infecções fúngicas, bacterianas ou de leveduras, deficiências nutricionais (como a falta de vitamina B), traumas ou má higiene bucal.

Infecções Virais 

Dentre essas infecções, é comum que os pacientes apresentem manifestações clínicas do Vírus da Herpes Simples. Essa alteração acomete a cavidade oral por meio de ulcerações bolhosas que podem durar até 10 dias, seguidas de cicatrização. Em pacientes com HIV, esse quadro pode se agravar podendo durar meses. Dessa forma, pacientes com quadros constantes de herpesvírus devem ter um ponto de atenção. 

Lesões bucais causadas por HPV (Papilomavírus Humano), também são comuns, como por exemplo o condiloma acuminado, verruga vulgar e a hiperplasia epitelial focal.

Outra manifestação viral é a Leucoplasia Pilosa, associada ao vírus Epstein-Barr (EBV), caracterizada por uma mancha ou placa branca, unilateral ou bilateral, que não pode ser removida por raspagem. Clinicamente, pode ser lisa, plana e pequena, mas também irregular, com um aspecto de pelos, apresentando dobras e projeções proeminentes.

Infecções Bacterianas  

Pacientes positivos podem desenvolver infecções bacterianas, sendo muito comum o desenvolvimento de doença periodontal, incluindo manifestações graves, como doenças periodontais necrosastes.

O quadro clínico ocorre porque o vírus compromete o sistema imunológico do paciente, tornando o periodonto suscetível as infecções causadas por bactérias patogênicas.

Nesse pacientes, devido à imunidade reduzida, as alterações bucais bacterianas passam a ser mais graves e dolorosas. Logo, o acompanhamento odontológico contínuo, bem como uma higiene bucal rígida devem ser adotados. 

Atendimento odontológico em pacientes HIV+

Como em qualquer atendimento, para que o profissional atue com segurança, uma anamnese detalhada é fundamental, juntamente com a avaliação de histórico médico e exame físico de cabeça e pescoço.  

Conforme citamos no tópico anterior, esses pacientes costumam apresentar manifestações bucais.

Logo, a avaliação do histórico do paciente, somado ao exame físico e demais sintomas, não necessariamente ligados à cavidade oral, podem indicar que o paciente é HIV positivo.

Em casos de suspeita, o cirurgião-dentista deve encaminhar o paciente a um infectologista, pois quanto mais brevemente for definido o diagnóstico, maior será a chance de controlar o avanço da doença. 

Em relação a pacientes já diagnosticados, o cirurgião-dentista deve abordar duas vertentes de tratamento:

  • Tratamento Tradicional: Relacionado ao controle das doenças bucais mais comuns, somado a orientações de prevenção e cuidados com higiene oral;
  • Tratamento Específico: Visa tratar as manifestações bucais ocasionadas pelo HIV, em especial. 

Além dessas medidas, o profissional deve solicitar contagem diferencial CD4 e CD8, carga viral e hemograma completo.

No caso de pacientes com o sistema imunológico comprometido, o tratamento odontológico deve ser adiado.

O atendimento odontológico em pacientes HIV+ é indicado somente em casos de carga viral indetectável.

Em relação às medidas de biossegurança, o profissional deve seguir todas as medidas recomendadas pela ANVISA, esteja o paciente infectado pelo vírus ou não, visando maior segurança e proteção contra os inúmeros riscos biológicos aos quais os indivíduos estão expostos. 

O uso dos materiais de biossegurança como máscara, touca, aventais, luvas, entre outros, jamais deve ser negligenciado pelo cirurgião-dentista e sua equipe odontológica. Da mesma forma, as rotinas de limpeza e desinfecção de ambiente odontológico, instrumentais e equipamentos devem ser seguidas à risca pela equipe. 

No consultório odontológico, o vírus pode ser transmitido por meio de exposição ocupacional, perante o compartilhamento de objetos perfuro cortantes contaminados.

Engana-se, contudo, quem acredita que a infecção pelo vírus do HIV durante o atendimento odontológico é frequente.  

A infecção pelo vírus da hepatite B (HBV), por exemplo, é um risco ocupacional muito maior para a equipe odontológica. Aliás, entre as doenças infectocontagiosas, a Hepatite é a que mais causa óbitos e interrupções da prática odontológica. 

Em suma, a medidas de biosseguranças no consultório devem ter a rigidez de sempre, independentemente de o paciente ser portador de alguma patologia ou não.  

Inclusive, autores indicam que os profissionais devem considerar qualquer paciente como potencialmente infectado, pois é comum a existência de assintomáticos. Assim, a conduta mais segura é a manutenção universal das normas de biossegurança.

Principais CIDs para o HIV/AIDS na Odontologia

É essencial que cirurgiões-dentistas tenham conhecimento sobre o CID, o que permite uma melhor comunicação entre os profissionais da saúde. Confira abaixo os CIDs indicativos de HIV: 

CID 10 – B20    Doença pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), resultando em doenças infecciosas e parasitárias 
CID 10 – B20.0    Doença pelo HIV resultando em infecções micro bacterianas 
CID 10 – B20.1    Doença pelo HIV resultando em outras infecções bacterianas 
CID 10 – B20.2    Doença pelo HIV resultando em doença citomegálica 
CID 10 – B20.3    Doença pelo HIV resultando em outras infecções virais 
CID 10 – B20.4    Doença pelo HIV resultando em candidíase 
CID 10 – B20.5    Doença pelo HIV resultando em outras micoses 
CID 10 – B20.6    Doença pelo HIV resultando em pneumonia por Pneumocystis jirovecii 
CID 10 – B20.7    Doença pelo HIV resultando em infecções múltiplas 
CID 10 – B20.8    Doença pelo HIV resultando em outras doenças infecciosas e parasitárias 
CID 10 – B20.9    Doença pelo HIV resultando em doença infecciosa ou parasitária não especificada 

Contudo, lembre-se que para a utilização dos CIDs em atestados odontológicos, é necessário ter a autorização do paciente. Usá-lo sem autorização indica quebra de sigilo profissional e, consequentemente, infração ética. 

O que fazer quando exposto ao vírus

A equipe odontológica deve estar preparada para lidar com situações em casos de exposição biológica.  

Conforme já citado, o risco de transmissão de HIV no consultório odontológico é baixo. Contudo, em caso de acidente com algum material ou fluído potencialmente contaminado, deve-se considerar emergência médica, onde as medidas profiláticas, associadas ao HIV e Hepatites, devem ser iniciadas o mais cedo possível. 

Primeiramente, deve-se realizar cuidados imediatos na área afetada, lavando abundantemente com água e sabão ao se tratar de exposição percutânea ou cutânea. Em casos de contato com a mucosa, deve-se utilizar soro fisiológico. 

Na sequência, tanto o paciente-fonte como o profissional exposto devem se dirigir à unidade de referência mais próxima, certificando-se de que estão aptos a atender acidentes envolvendo material biológico. 

Os profissionais de saúde realizarão os testes necessários e indicarão a necessidade de o profissional exposto realizar a PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV), que deve ser feita, de preferência, nas primeiras duas horas após a exposição de risco e em até 72 horas, no máximo. 

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Nesse artigo foi possível compreender as principais manifestações bucais que acometem pacientes odontológicos com HIV/AIDS, a importância do cirurgião-dentista no diagnóstico e encaminhamento do paciente ao infectologista, bem como o tratamento contínuo e humanizado de pacientes já diagnosticados. 

O preconceito, ainda muito presente na sociedade, impacta negativamente a vida de pacientes soropositivos. O consultório odontológico é um local onde o paciente deve sentir-se acolhido e bem tratado, dessa forma, é papel do cirurgião-dentista e equipe odontológica estarem preparados para assistir esse perfil de paciente de forma integral. 

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Referências:  

Publicado por
Gabrielli Nery Wandscheer

Formada em Administração pela Estácio, especialista em Marketing e redação técnica na área odontológica.

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