A AIDS é uma doença causada pelo vírus HIV, que ataca células específicas do sistema imunológico e que em um estágio avançado, pode apresentar diversos sinais e sintomas, incluindo manifestações bucais.
AIDS
A mobilização nacional conhecida como “Dezembro vermelho” começou em razão do Dia Mundial contra a AIDS, celebrado hoje, dia 1º de dezembro, com intuito de conscientizar a população sobre a prevenção contra o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).
Segundo a última estimativa realizada pelas Nações Unidas (UNAIDS), no ano de 2019 foram identificadas 1,7 milhões de novas infecções, 690 mil mortes relacionadas a AIDS e cerca de 38 milhões de pessoas vivendo com o vírus HIV.
No Brasil, o Boletim Epidemiológico de 2019 identificou 966.058 mil pessoas soropositivas, com uma média de 39 mil novas infecções nos últimos cinco anos. Contudo, os infectados com a maior proporção observada foi no gênero masculino e na faixa etária entre 20 e 34 anos.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, ter o HIV não é a mesma coisa que ter AIDS. Pois, há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença.
O HIV é um retrovírus, que ataca o sistema imunológico, principalmente os linfócitos T CD4+, o que pode levar a supressão do sistema imune.
Fases da infecção
Primeiramente, na fase chamada de infecção aguda, ocorre a incubação do HIV, período da exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais da doença. Contudo, esse período varia de três a seis semanas. Porém, os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida.
A próxima fase é marcada pela forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus. Todavia, esse período, chamado assintomático pode durar muitos anos.
Posteriormente a fase sintomática inicial é caracterizada pela alta redução dos linfócitos T CD4+ que chegam a ficar abaixo de 200 unidades por mm³ de sangue. Mas, em adultos saudáveis, esse valor varia entre 800 a 1.200 unidades. Com isso, os sintomas mais comuns nessa fase são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento.
Manifestações Bucais
A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, entre outras manifestações bucais bastante comuns:
Candidíase
Infecção fúngica causada pela Candida albicans que em sua maioria se apresenta nas formas clínicas pseudomembranosa (placas brancas raspáveis), eritematosa (máculas eritematosas) e queilite angular (fissuras evermelhadas). Entretanto, estudos que avaliam a prevalência dessas manifestações bucais sugerem que a candidíase é a manifestação bucal mais comum, sendo encontrada em 90% dos pacientes com AIDS.
Eritema gengival linear
Clinicamente apresenta-se como uma borda linear de eritema envolvendo a gengiva marginal livre e estendendo-se 2 a 3 mm na direção apical. Porém, há uma discussão na literatura a respeito do seu fator etiológico, pois, alguns autores acreditam que esta ocorra devido à uma resposta imune do hospedeiro à bactéria subgengival, mas a grande maioria acredita que esse seja um padrão incomum de gengivite causada por candidíase.
Gengivite ulcerativa necrosante (GUN)
Caracteriza-se pela ulceração e necrose das papilas interdentais, sem perda de inserção, acompanhada de necrose gengival interproximal, sangramento, dor e halitose. Desse modo, tem como fator etiológico uma combinação de diferentes tipos de bactérias associadas a fatores como estresse e imunossupressão, por isso, é uma condição comumente encontrada em pacientes com AIDS.
Periodontite ulcerativa necrosante (PUN)
Quando a gengivite ulcerativa necrosante progride e leva a perda do ligamento periodontal, passamos a classificá-la como periodontite ulcerativa necrosante. Em suma, se caracteriza por ulceração gengival e necrose associadas a perda de inserção de rápida progressão, edema, dor intensa, hemorragia espontânea e odor fétido. No entanto bolsas periodontais profundas não são comuns, devido a perda de osso alveolar adjacente.
Herpes Simples
Causado pelo vírus HSV, as infecções recorrentes manifestam-se clinicamente como lesões vesicobolhosas mais exacerbadas e mais duradouras quando comparadas com as lesões em pacientes imunocompetentes. Porém, algumas lesões podem durar até mais de um mês, quadro que pode ser sugestivo de paciente HIV positivo.
Herpes Zoster
Infecção causada pelo vírus VZV que normalmente acomete pacientes idosos. No entanto, nos pacientes soropositivos é bastante comum em indivíduos com menos de 40 anos. Por isso, clinicamente apresentam um curso mais intenso e mais grave, com um aumento da frequência de morbidade e mortalidade. Nesse sentido, as lesões bucais geralmente provocam sequestro ósseos, perda dentária e dor intensa.
Leucoplasia Pilosa
Causada pelo Vírus Esptein-Barr (EBV), apresenta-se como placas esbranquiçadas ou lesões mucosas brancas, na maioria das vezes, localizada em borda lateral ou dorso de língua. Acima de tudo, sua presença é um sinal de imunossupressão grave, sendo considerada um sinal preditivo para a AIDS.
Sarcoma de Kaposi
Neoplasia de origem vascular que pode está associada ao herpesvírus tipo 8 (HHV-8). Contudo, clinicamente apresentam-se como lesões únicas ou múltiplas, de coloração vermelho-púrpurea que não desaparecem pela compressão, mais comumente encontradas na região de palato duro, gengiva e língua. Nesse sentido no palato e gengiva podem invadir o osso e provocar mobilidade dentária
Ulcerações Aftosas
Essas lesões nas suas variadas formas clínicas, menor, maior e herpetiforme, ocorrem com elevada frequência nos pacientes soropositivos. Porém, diferente do que é observado nos pacientes imunocompetentes, as formas clínicas mais frequentes nos pacientes soropositivos são a maior e a herpetiforme. Além disso, vale ressaltar que apresentam-se, na maioria das vezes, como lesões mais duradouras.
Papiloma escamoso e Verruga Vulgar
São lesões causadas pelo vírus HPV, que se apresentam como únicas ou múltiplas em qualquer região da mucosa bucal. Sendo assim, lábio, língua, mucosa jugal e gengiva são os locais mais comuns. Ainda assim, as lesões apresentam superfície irregular com presença de projeções semelhantes a espículas ou pápulas. Além disso, a coloração varia de normocorada (rósea) a esbranquiçada.
Linfoma
Neoplasia maligna relacionada com o Vírus Esptein-Barr (EBV), sendo o tipo não-Hodgkin de células B o mais comum. Assim, clinicamente as lesões apresentam-se como um aumento de volume de tecido mole do palato ou da gengiva, e quando há envolvimento intra-ósseo pode lembrar periodontite agressiva difusa. Nesse caso, são tumores agressivos e a sobrevida é avaliada em meses, a partir do seu diagnóstico.
Linfadenopatia generalizada
Esse aumento dos linfonodos está presente em cerca de 70% dos pacientes. Portanto, os locais mais envolvidos são os nodos cervicais anterior e posterior, submandibulares, occipitais e axilares. Contudo o aumento dos linfonodos é flutuante, geralmente com mais de 1 cm, variando de 0,5 a 5 cm.
Carcinoma Espinocelular
Neoplasia de origem epitelial, associada a fatores etiológicos como vírus HPV, tabagismo, etilismo. Assim, alguns autores acreditam que a infecção pelo HIV pode acelerar o desenvolvimento desse tumor, possivelmente porque a resposta imune encontra-se prejudicada.
Considerando o alto número de pessoas que vivem com o vírus HIV no Brasil, pacientes que apresentem manifestações bucais da AIDS são cada vez mais comuns nos consultórios odontológicos. Portanto, é de grande importância que o cirurgião dentista, independente da sua área de atuação, saiba identificar essas manifestações mais comuns da doença para tratarem ou ao menos encaminharem e orientarem o paciente.
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