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Uso de anestésico local na Odontologia: como evitar possíveis complicações?

Confira os anestésicos locais mais utilizados, as principais complicações que podem ocorrer ao utilizá-los e dicas para evitar as possíveis complicações!

Definidos como drogas que têm por função bloquear temporariamente a condução nervosa em parte do corpo, os anestésicos locais determinam perda das sensações sem ter perda da consciência.

Os anestésicos penetram na célula e se ligam com receptores específicos nos canais de sódio, reduzindo/impedindo a entrada de íons, assim, bloqueiam a condução nervosa e a percepção da dor. 

Na Odontologia, os anestésicos locais fazem parte da rotina de procedimentos, sendo utilizados para procedimentos como: 

*Vale lembrar que o limiar da tolerância de dor varia de paciente para paciente. 

Anestésicos mais comuns na Odontologia

Os anestésicos locais mais utilizados na Odontologia são:

Lidocaína (Xylocaína) 

  • Mais utilizado, considerado como “padrão” 
  • Anestésico do tipo Amida – metabolização hepática.
  • Concentração: 2% e 3% 
  • Dose máxima: 7,0 mg/Kg em adultos, não ultrapassar 500 mg ou 13 tubetes anestésicos. 
  • Dose tóxica: depressão do Sistema Nervoso Central (SNC), Sistema Cardiovascular (SCV) e Sistema Respiratório; podendo causar convulsão e coma. 

Mepivacaína (Mepiadre) 

  • Potência “similar” à lidocaína;
  • Concentração: 2% e 3% 
  • Dose máxima: 6,6 mg/Kg, não excedendo 400 mg ou 11 tubetes anestésicos.
  • Possui maior duração anestésica em relação aos demais anestésicos locais. 

Prilocaína (Citocaína; Citanest) 

  • 40% menos tóxica que a lidocaína. 
  • Concentração: 4% 
  • Dose máxima: 6,0 mg/kg, não excedendo 400mg ou 7 tubetes anestésicos;
  • Ultrapassa a barreira placentária (cianose fetal) e em casos de sobredosagem, produz aumento dos níveis de metemoglobina no sangue. 

Articaína

  • É mais potente que a lidocaína e menos tóxica. De modo geral, a  articaína é menos tóxica que a lidocaína tanto para o SNC como para o Sistema Cardiovascular. 
  • Concentração: 4% com 1:100.000 de epinefrina
  • Dose máxima: 6,6mg/kg, não ultrapassando 500mg ou 6 tubetes. 
  • Metabolização plasmática e hepática (fígado) > hidrólise mais rápida, que ajudara a diminuir a toxicidade associada a redução lenta da droga  no local da injeção.
  • Contra-indicação: alérgicos; arrítmicos; menores de 14 anos.

Bupivacaína (Neocaína)

  • Apresenta potência quatro vezes maior que a lidocaína e uma toxicidade quatro vezes menor. 
  • Anestésico de longa duração 
  • Concentração: 0,5%, 
  • Dose máxima: 1,3mg/ kg, não devendo ultrapassar 90mg ou 10 tubetes.

Possíveis complicações do uso de anestésicos

Intoxicação e interação com outros medicamentos 

Os anestésicos locais podem ser tóxicos de acordo com a dose aplicada e o grau de absorção do organismo. O anestésico que mais causa intoxicação é a bupivacaína (por superdosagem).

Pode haver interação com outras substâncias como a cocaína que é um potente vasoconstritor – a interação causa um aglomerado de neurotransmissores, com isso, leva ao aumento da pressão arterial, taquicardia e até formação de trombos nas veias ou artérias. 

Efeitos principais: dificuldade em articular as palavras, redução da consciência, parestesia/formigamento nos lábios, convulsões e distúrbios visuais.

Paralisia do nervo facial

Causada pela introdução de anestésico local na cápsula da glândula parótida, que se localiza no limite posterior do ramo da mandíbula – envolta pelos músculos masseter e pterigoideo medial.

Geralmente é uma perda transitória, durando algumas horas – dependendo do volume injetado, da formulação do anestésico e da proximidade do nervo facial. 

Infecção

Ocorre pela introdução de agulhas ou solução contaminadas no interior dos tecidos – quando se utiliza tubetes contaminados (não descontaminados corretamente antes do uso). 

Trismo

Causado pelo trauma em músculos ou vasos sanguíneos; associado ao  volume excessivo de solução anestésica em área restrita que provoca distensão dos tecidos.

Pode ser causado também por hematomas ou infecções pós aplicação de anestésico local. 

Necrose dos tecidos

Irritação ou isquemia prolongada dos tecidos moles pode levar à descamação epitelial (devido a aplicação de anestésico tópico por período prolongado ou sensibilidade aumentada dos tecidos aos anestésicos locais injetáveis/tópicos) e abscesso estéril (secundário a isquemia prolongada resultante do uso de anestésico local com vasoconstritor (geralmente norepinefrina).

Como prevenir complicações?

Tudo começa com uma anamnese detalhada, onde o dentista precisa analisar os dados e histórico do paciente:

Idade: indivíduos nos extremos etários apresentam maior incidência de reações com anestésicos locais

Peso: quanto maior o peso corporal de um paciente, maior será a dose de uma droga que pode ser tolerada antes que haja reações de superdosagem.  

Uso de medicamentos: pacientes que tomam meperidina (Demerol), fenitoína (Dilantin), quinidina (antiarrítimico) e desipramina (antidepressivo tricíclico) têm níveis sanguíneos mais elevados de anestésico local livre e, assim, podem apresentar efeitos tóxicos quando administradas doses menores, pela competição pela ligação proteica.

*É de extrema importância lembrar que o anestésico local é um depressor da membrana celular e que embora fenômenos excitatórios estejam presentes no quadro de intoxicação, eles traduzem sempre uma depressão do SNC. Dessa forma, outros agentes depressores devem ser evitados ou usados com segurança quando estes forem necessários no tratamento 

 Presença de doenças: a disfunção hepática e renal compromete a capacidade do organismo degradar e excretar o anestésico local, provocando um aumento do seu nível no sangue; a insuficiência cardíaca congestiva diminui a perfusão hepática (volume de sangue que atravessa o fígado durante um determinado período) e assim aumenta a meia-vida de anestésicos locais do tipo amida e o risco de superdosagem.

Genética: alterações genéticas da enzima pseudocolinesterase sérica são um importante exemplo. Essa enzima, produzida no fígado, circula no sangue e é responsável pela biotransformação dos anestésicos locais tipo éster. Uma deficiência dessa enzima seja quantitativa ou qualitativa, pode prolongar o tempo de meia-vida do anestésico local do tipo éster e aumentar seu nível sanguíneo. 

Temperamento e ambiente social: o paciente apreensivo, que reage excessivamente ao estímulo, é mais propenso a necessitar de maior dose de anestésico local. 

Histórico de alergias: muito importante receber essa informação.

E ainda: 

  • Tranquilizar o paciente – falar que ele não vai sentir dor e que é um procedimento rápido, para evitar desconforto posterior. 
  • Conhecer minuciosamente a anatomia do local a ser injetado o anestésico; 
  • Utilizar a técnica correta e injetar o volume; 
  • Realizar punção aspirativa; 
  • Escolher o anestésico correto para cada caso;
  • Utilizar agulhas estéreis (uso único para cada paciente) e, preferencialmente, tubetes anestésicos de vidro; 
  • Estabelecer um apoio firma para as mãos; 
  • Injetar o anestésico lentamente; 
  • Evitar realizar múltiplas punções no mesmo local.

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Referências: 

  • Artigo: O emprego dos anestésicos locais em Odontologia: Revisão de Literatura.
  • Malamed, S.F Manual de anestesia local. 5ª ed., Rio de Janeiro, Elsevier, 2005 
  • INTOXICAÇÃO ANESTÉSICA: CAUSA, EFEITO E TRATAMENTO.
  • PEREIRA, K. J. DE F.; NETO, A. M. M.; MENEZES, J. H. A. manejo de acidentes e complicações no uso de anestésicos locais na odontologia. Revista Extensão & Sociedade, v. 1, n. 4, 9 mar. 2012. 

Publicado por
Dra. Maria Cecília de Azevedo

Cirurgiã-dentista pela Universidade do Vale do Itajaí, residente no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais - USP Bauru.

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