As urgências endodônticas são bem comuns no dia a dia dos Endodontistas. Trata-se de uma situação que deixa tanto paciente quanto cirurgião-dentista um pouco apreensivo. Do lado do paciente existe a dor geralmente presente, que gera um sentimento de medo e angústia. Pelo lado do cirurgião-dentista, a responsabilidade em realizar um tratamento endodôntico eficaz que resolva o problema do paciente.
É comum nessas situações o paciente chegar em seu consultório um pouco confuso, sendo que é extremamente importante o diagnóstico em endodontia bem sucedido para o sucesso da terapia.
Sendo assim, é relevante ressaltar que o tratamento de urgência, quando bem realizado, é gratificante para profissional e paciente estabelecendo uma relação de segurança entre ambos, contribuindo decisivamente para que a confiança do paciente seja conquistada.
Essa é a rota do sucesso das urgências endodônticas, que constitui em várias etapas importantes, que muitas vezes é negligenciada pelo profissional. O tratamento propriamente dito das urgências nada mais é do que um protocolo que as universidades e livros nos esclarece facilmente. No entanto, precisamos nos atentar à esses “pequenos detalhes” que nos diferenciam como Endodontistas.
Escutar o paciente
Algo que parece tão simples e é tão pouco explorado pelo dentista. A escuta ativa é importante para colher informações relevantes que facilite o diagnóstico para futuro tratamento. Deixe o paciente relatar o ocorrido, sem interrupções, afim de evitar influência no diagnóstico. Ouvir é muito mais importante do que mostrar o que sabe. Lembre-se que neste momento, o que interessa é o bem-estar do paciente.
Anamnese
Em relação a Anamnese, além de obtém informações para o diagnóstico e planejamento do tratamento, ela ajuda a estabelecer o perfil do paciente que será tratado sob sua responsabilidade. Sabemos que nas urgências muitas vezes não temos muito tempo para o atendimento, mas é imprescindível a coleta de informações por meio de uma anamnese mais direcionada, com atenção especial nos casos de pacientes portadores de doenças crônicas. Deve-se avaliar os sinais vitais como aferição de pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura.
Diagnóstico
O diagnóstico bem realizado é fundamental para a resolução do problema, visto que influenciará a tomada de decisão para o tratamento adequado. De forma direta deve ser abordado uma série de questionamentos, incluindo dados subjetivos e posteriormente objetivos.
Dados subjetivos história dental:
Queixa principal; qual a localização da queixa principal (sede: localizada / difusa); Cronologia de sintomas (como apareceu? Quanto tempo?); Condições de aparecimento (espontânea, provocada, constante, intermitente); Qualidade da dor (latejante, pulsátil, aguda); intensidade da dor (fraca, moderada, severa).
Dados objetivos:
Realização de exame clínico visual, testes de sensibilidade pulpar (usualmente teste térmico, em casos específicos, teste de cavidade), testes perirradiculares (palpação e percussão). Avaliar a presença de edema intra ou extra-oral, cor e textura da mucosa, alteração cromática do dente, presença de restaurações e cáries, sondagem periodontal, teste de mobilidade. Atentar-se em caso de presença de fístula com a realização do rastreamento como diagnóstico diferencial. Por último, a realização de exame radiográfico.
Controle de ansiedade
Do mesmo modo, pacientes que procuram tratamento para urgências endodônticas, muitas vezes possuem alteração do quadro normal, estando ansiosos para que a condição de normalidade seja reestabelecida. Após realização de uma anamnese direcionada, verificando as condições de saúde geral do paciente, pode-se realizar o controle da ansiedade por meio de meios farmacológicos e não farmacológicos.
Em relação aos meios farmacológicos, pode ser administrado medicamentos que diminuem a ansiedade. Dentre eles, destaca-se o fitoterápico Valeriana Officinalis e a sedação consciente com benzodiazepínicos via oral, que reduz o fluxo salivar, promove relaxamento da musculatura esquelética e ajudam a manter níveis aceitáveis de pressão arterial e glicemia. Vale ressaltar que independente da medicação, é importante avaliar a real necessidade de sua administração, levando em consideração o estado de saúde geral do paciente.
Atualmente, podemos também disponibilizar em nosso consultório a utilização de sedação por óxido nitroso que acalma o paciente de uma forma rápida e segura, diminuindo também a sensibilidade à dor, tendo como vantagem a ausência de efeitos demorados após a sessão do tratamento.
Analgesia preemptiva / Anestesia
Tem sido demonstrado que a prescrição de anti-inflamatório antes da intervenção endodôntica produz benefícios significativos em muitos estudos. É importante salientar que uma simples dose de AINE provavelmente não irá resultar em redução significativa de dor pós-tratamento. Nesses casos, o paciente deveria ser instruído a tomar medicação de acordo com um planejamento (antes da intervenção e 2 dias após).
Além disso, a analgesia preemptiva pode aumentar o sucesso da anestesia local, o que é bastante desejável. Desta forma, a analgesia preemptiva em associação com um regime analgésico pós-tratamento pode levar a um menor desconforto pós-operatório e maior sucesso transoperatório da anestesia. Este procedimento terapêutico deve ser usado depois dos testes clínicos necessários ao diagnóstico endodôntico terem sido feitos, para que assim os sintomas e queixa principal não sejam mascarados.
Em relação aos anestésicos locais utilizados para manejo da dor na clínica endodôntica, pode-se optar por anestésicos de longa duração como bupivacaína, uma vez que além de produzir anestesia durante o procedimento, também retardam significativamente o desenvolvimento da dor pós-operatória. Em relação a casos de pulpite irreversível em molares inferiores, estudos demonstram a efetividade da complementação da técnica de bloqueio com a técnica infiltrativa utilizando articaína.
Atendimento clínico
É imprescindível o conhecimento das alterações pulpares e periapicais, do correto diagnóstico para poder estabelecer a conduta clínica necessária em cada caso. Especificamente nos tratamentos de urgências endodônticas, em que em muitos casos o tempo disponível é curto para resolução do problema, é de extrema relevância atuar de forma direta e eficaz.
Atentar-se as medicações intracanal que devem ser utilizadas em cada caso e especialmente os cuidados prévios em cada terapia. Nos casos de polpa viva, tentar a manutenção da cadeia asséptica e realização da correta pulpectomia. Nos casos de polpa necrosada, realizar neutralização de todo conteúdo séptico tóxico do interior dos canais radiculares, evitando a ocorrência de flare-ups.
Terapêutica de suporte / Orientações
Após o correto atendimento clínico, deve-se avaliar a necessidade de uma terapia medicamentosa de suporte afim de evitar a ocorrência de sintomatologia dolorosa pós-tratamento. Sabe-se que nos tratamentos de urgências endodônticas a conduta clínica reflete e muito o sucesso o tratamento, porém, devemos nos atentar a prescrição de medicamentos em alguns casos.
Para controle da dor a prescrição de analgésicos e anti-inflamatórios. Em casos específicos de pacientes imunossuprimidos, com abscessos difusos com edema generalizado, portadores de febre, mal-estar e/ou prostrações, recomenda-se a prescrição de antibioticoterapia prévio e pós-tratamento.
Em relação as orientações pós-tratamento, é importante orientar corretamente o paciente sobre como deve ocorrer o pós-operatório, se possível verbalmente e entregue por escrito, junto com seu telefone de contato. Afinal, essa relação deixa o paciente ainda mais confiante no pós-operatório.
Follow -up
Logo após o tratamento de urgência, o dentista deve atentar-se em entrar em contato por telefone com o paciente para acompanhar o pós-operatório (8h-24h após a consulta de urgência), e avaliar se o mesmo se encontra com ausência de sintomatologia clínica. Além disso, o paciente deve retornar em nova consulta clínica para avaliação de sinais e sintomas clínicos e para finalização do tratamento proposto.
Lembre-se, o objetivo principal das urgências endodônticas é o alívio da dor, restabelecendo a saúde do paciente, mantendo a previsibilidade do tratamento. Com isso, alcançará a fidelização do seu paciente, que ficará seguro em seus tratamentos e indicará seu trabalho para outros futuros pacientes.
Referência:
– Hélio Pereira Lopes e José Freitas Siqueira Jr. “Endodontia – Biologia e técnica, 4a Edição, 2015
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