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Manifestações bucais da Sífilis

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Apesar de muitos acharem que a Sífilis é coisa do passado, ela nunca esteve tão presente. Entenda nessa matéria o que é, quais os estágios e as manifestações bucais que a sífilis pode causar.

O que é a Sífilis?

A Sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum que pode ser transmitida por relação sexual (anal, vaginal ou oral) desprotegida com uma pessoa infectada.
Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de 2010 a 2018 o número de casos de sífilis adquirida, saltou de 2,1 para 75,8 a cada 100 mil habitantes, o equivalente a um aumento de 3.600%.
Especialistas da área acreditam que o aumento significativo da doença esteja ligado a dois fatos: o sucesso no tratamento da aids, teria tirado de cena um medo que antes estimulava mais precaução contra as ISTs; o maior acesso aos testes rápidos no SUS (Sistema Único de Saúde) permite flagrar episódios que antes passavam despercebidos.
Clinicamente a Sífilis pode apresentar diferentes estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária) e várias manifestações, inclusive na cavidade bucal. Portanto, levando em consideração a alta incidência do número de novos casos, é de grande importância que os cirurgiões dentistas tenham conhecimento e saibam diagnosticar as manifestações bucais associadas aos diferentes estágios da doença.

Manifestações Bucais da Sífilis

Sífilis Primária

É caracterizada pela fase do “cancro”que se desenvolve no local da inoculação do microrganismo, tornando-se clinicamente evidente entre 3 e 90 dias após a exposição inicial. Contudo, na maioria das vezes são lesões únicas, papulares, com área central ulcerada, assintomáticas, que podem acometer cavidade bucal (lábio, língua, gengiva, amígdalas) e ânuse genitália. Contudo, também é observada linfadenopatia regional bilateral na maioria dos pacientes. Porém, mesmo quando não tratada, essas lesões cicatrizam dentro de 3 a 8 semanas.

Sífilis Secundária

É conhecida como fase “disseminada”, sendo descoberta clinicamente entre 4 e 10 semanas após a infecção inicial. Todavia, as lesões secundárias podem surgir antes que as lesões primárias tenham sido completamente resolvidas. Portanto, nessa fase são comuns outros sintomas sistêmicos como, linfadenopatia indolor, dor de garganta, mal-estar, dor de cabeça, perda de peso, febre e dores músculo-esqueléticas. Nesse sentido, lesões “maculopapulares” eritematosas podem acometer região de palma das mãos e planta dos pés e também cavidade bucal. Da mesma forma, alguns pacientes também apresentam áreas sensíveis da mucosa, de coloração esbranquiçada, conhecidas como “placas mucosas”que são mais comuns na língua, lábios e palato. Ainda assim, há relatos de lesões papilares chamadas de “condilomas lata”, e em casos mais graves como em pacientes HIV positivos, a sua manifestação é chamada “lues maligna”, caracterizada por lesões necróticas e diversas manifestações sistêmicas.

Sífilis Terciária

Após o segundo estágio a pessoa entra no estágio conhecido como sífilis latente, sem sintomas. Todavia, a pessoa pode demorar de um até trinta anos para desenvolver o estágio terciário. Sobretudo, a sífilis terciária trata-se da fase mais grave da doença, pois o sistema vascular e o sistema nervoso podem ser afetados significativamente. Além disso, o local ativo da inflamação aparece como uma lesão endurecida, nodular ou ulcerada, que pode produzir destruição intensa, chamada de “goma sifilítica”. Nesse caso, quando acomete a língua, a mesma fica aumentada, lobulada e de forma irregular, também conhecida como “glossite intersticial”. Bem como, a região do palato pode causar perfuração por completo em direção à cavidade nasal.

Sífilis Congênita

A sífilis congênita é transmitida da mãe para criança durante a gestação e pode causar algumas características consideradas patognomônicas, conhecidas como Tríade de Hutchinson:
  • Dentes de Hutchinson (incisivos que lembram a parte ativa da chave de fenda e molares em forma de amora);
  • Queratite ocular intersticial;
  • Surdez provocada pelo comprometimento do 8º nervo craniano;
Observe um resumo das principais manifestações no quadro abaixo:
Dependendo do estágio a sífilis pode ser diagnóstico diferencial de outras doenças infecciosas e até mesmo do câncer de boca. Portanto, ao identificar uma lesão, o cirurgião dentista pode fazer uma biópsia incisional e encaminhar o material coletado para o laboratório de anatomia patológica e ainda solicitar exames complementares como o VDRL, geralmente utilizado para detecção de sífilis. No caso de dúvida ou insegurança, não deixe o paciente sem orientação, encaminhe o paciente para um patologista ou estomatogista.
Encaminhar não é sinal de fraqueza, e sim um sinal de nobreza!
Referencias: Ministério da Saúde –Boletim Epidemiológico –Sífilis –2019Neville, BWet al. Patologia Oral & Maxilofacial. Koogan. 2ª edição. Rio de Janeiro.2002.

Publicado por
Profª Dra. Natália Galvão Garcia

Cirurgiã-dentista pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), Mestre, Doutora e Pós-Doutora pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP), Professora Dra. do curso de Odontologia do Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS – MG). Atua no consultório nas áreas de Diagnóstico Oral, Cirurgia Oral Menor, Pacientes Especiais e Laserterapia. CROMG: 56425

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