Cuidados Odontológicos em Pacientes com Dengue Hemorrágica

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O Brasil vive um surto de Dengue com cerca de 757 mil casos confirmados. Segundo dados publicados pelo Ministério da Saúde no último Boletim Epidemiológico, em comparação com 2021, houve um aumento de 151,4% no número de casos de Dengue registrados no mesmo período.

As regiões com maior taxa de incidência são respectivamente, centro-oeste, sul, sudeste, norte e nordeste. Sendo os estados de São Paulo, Santa Catarina, Goiás e Bahia, detentores do maior número de óbitos.

Devido a essa epidemia, é fundamental que cirurgiões-dentistas estejam preparados para detectar possíveis manifestações bucais causadas pela dengue, a fim de orientar seus pacientes a buscar atendimento, visto a importância de um diagnóstico precoce.

Ao longo do artigo, leia mais informações sobre essa patologia, sua origem, sinais e sintomas, tratamento e formas de prevenção.

Dengue: o que é?

A Dengue é uma infecção causada pelo vírus dengue (DENV), o qual possui quatro sorotipos distintos: 1, 2, 3 e 4.

Considerando que a principal forma de transmissão é a vetorial, que ocorre pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, a Dengue é a arbovirose urbana de maior relevância nas Américas.

Apesar de raras, a transmissão vertical e a transfusional podem acontecer. Neste caso, a transmissão vertical ocorre entre gestante e bebê, já a transmissão transfusional se dá por meio de transfusão de sangue.

A Dengue também é considerada uma doença sazonal que apresenta aumento de casos entre os meses de dezembro e maio, coincidindo com o período de altas temperaturas e aumento das chuvas.

As chuvas torrenciais que geram água parada associadas a falta de cuidado da população permite que o mosquito se reproduza facilmente e consequentemente contribua para o aumento do número de casos.

Sinais e Sintomas

A Dengue é uma doença febril que pode afetar bebês, crianças e adultos. Podendo a infecção ser assintomática ou apresentar sintomas que variam de febre baixa a febre alta incapacitante, com forte dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares e nas articulações e erupções cutâneas.

Os sinais e sintomas mais comumente observados são:

  • febre alta com início súbito (39° a 40°C);
  • forte dor de cabeça;
  • dor atrás dos olhos;
  • perda do paladar e apetite;
  • manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, principalmente no tórax e membros superiores;
  • náuseas e vômitos;
  • tontura;
  • extremo cansaço;
  • moleza e dor no corpo;
  • muitas dores nos ossos e articulações;
  • dor abdominal (principalmente em crianças).
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Dengue Hemorrágica

Além disso, a doença pode progredir para Dengue Grave também conhecida como Dengue Hemorrágica.

Apesar dos sinais e sintomas serem semelhantes, é preciso observar bem os sinais. A diferença entre elas é que quando a febre diminui, por volta do terceiro ou quarto dia, surgem hemorragias devido sangramento de vasos na pele e em órgãos internos.

Na Dengue Hemorrágica, o quadro clínico se agrava rapidamente, apresentando sinais de insuficiência circulatória.

Quando acaba a febre começam a surgir os sinais de alerta:

  • dores abdominais fortes e contínuas;
  • vômitos persistentes;
  • pele pálida, fria e úmida;
  • sangramento pelo nariz, boca e gengivas;
  • manchas vermelhas na pele;
  • comportamento variando de sonolência à agitação;
  • confusão mental;
  • sede excessiva e boca seca​;
  • dificuldade respiratória;
  • queda da pressão arterial.

Manifestações bucais da Dengue

Além das manifestações sistêmicas, podem ocorrer manifestações bucais, sendo o sangramento gengival a manifestação mais comum.

Também podem ser observados sinais e sintomas como:

  • Hiperpigmentação ou vermelhidão da mucosa;
  • Edema labial;
  • Petéquias;
  • Língua pilosa;
  • Xerostomia;
  • Alterações no paladar;
  • Desconforto faríngeo ao deglutir;
  • Linfadenopatia;
  • Artralgia na articulação temporomandibular.

No estágio mais grave da doença, ou seja, na Dengue Hemorrágica, sinais e sintomas como petéquias, sangramento gengival e vermelhidão da mucosa podem ser confundidos com anormalidades plaquetárias ou distúrbios hemorrágicos.

Também, vale ressaltar que a dengue, assim como outras infecções virais, pode causar uma queda no sistema imunológico do hospedeiro pela sobrecarga no combate ao vírus e deixar o organismo mais susceptível a infecções oportunistas.

Sendo assim, acredita-se que a doença possa agravar um quadro de infecção odontogênica tornando o seu tratamento mais complexo.

Tratamento

Não existe tratamento específico contra o vírus da dengue, sendo possível apenas tratar os sintomas da doença.

Portanto, diante do aparecimento dos primeiros sintomas, recomenda-se buscar atendimento médico, para a correta classificação de risco e o estadiamento da doença.

Manter-se hidratado também é fundamental para quem quer vencer a Dengue, já que a doença leva à desidratação do corpo. Ao passo que, para quem não consegue se alimentar, a soroterapia pode gerar algum conforto imediato.

Além disso, devem ser utilizados medicamentos somente sob orientação médica, não sendo recomendada a utilização do ácido acetil salicílico (AAS) e de anti-inflamatórios não esteroidais, devido ao risco de hemorragia.

Prevenção no consultório

Levando em conta que o mosquito Aedes aegypti se prolifera em água parada, os meses mais chuvosos e com altas temperaturas são os períodos do ano com maior transmissão, por isso, é importante manter o ambiente limpo.

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Todas as pessoas devem cuidar de suas casas e locais de trabalho, eliminando qualquer ambiente que possa favorecer o desenvolvimento do mosquito, pois os ovos do mosquito podem sobreviver por um ano até encontrar as melhores condições para se desenvolver.

Principalmente locais que acumulam água parada, como pneus, garrafas e vasos de plantas. Usar repelentes e instalar telas nas portas e janelas de casa também são medidas que podem ajudar na prevenção da doença e afastam o risco de picadas do mosquito.

Considerando o alto número de casos de dengue registrados atualmente, é essencial que todos os profissionais da área da saúde conheçam os principais sinais e sintomas da doença para diagnosticá-la o quanto antes.

Dentre esses profissionais, o cirurgião-dentista tem um papel fundamental, levando em conta que manifestações bucais também podem ser observadas.

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Referências:

Hospital Albert Einstein. Dengue. Disponível em: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/dengue

Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. 2022; 53(18):21-15.

Bhardwaj VK, Negi N, Jhingta P, Sharma D. Oral manifestations of dengue fever: A rarity and literature review. Eur J Gen Dent 2016;5:95-8.

Medeiros BF, de Andrde AC, Medeiros B, Timerman L, Alves LAC, Santos PSS. Doenças virais e seu impacto na Odontologia. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo – Supl – 2020;30(4):545-8.

Pedrosa MS, Pierote JJA, Lopes LDS, Pompeu JGF. Manifestações orais relacionadas à dengue. Rev Assoc Paul Cir Dent. 2017;71(1):21-4.

Silva MC, et al. Influência da dengue na infecção odontogênica. Research, Society and Development, v. 10, n. 4, e14010413930, 2021

Cirurgiã-dentista pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), Mestre, Doutora e Pós-Doutora pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP), Professora Dra. do curso de Odontologia do Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS – MG). Atua no consultório nas áreas de Diagnóstico Oral, Cirurgia Oral Menor, Pacientes Especiais e Laserterapia. CROMG: 56425
Profª Dra. Natália Galvão Garcia
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