A síndrome de burnout é um tema que vem sendo amplamente discutido, devido ao crescente número de casos de esgotamento físico e emocional ligados ao trabalho.
Também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, a doença costuma se manifestar em indivíduos que realizam longas jornadas de trabalho e atividades sob pressão e de grande responsabilidade.
No caso da Odontologia, devido às peculiaridades da profissão-dentista e por estarem expostos a diversos fatores que favorecem a exaustão profissional, os riscos de cirurgiões-dentistas desenvolverem burnout são altos.
Para saber mais sobre os sintomas, tratamentos e como evitar seu desenvolvimento em meio odontológico, continue lendo este conteúdo especial.
Síndrome de burnout: o que é?
Até pouco tempo atrás, pouco se falava sobre a importância dos cuidados com a saúde mental. Mas, é evidente que negligenciar problemas emocionais pode causar grandes prejuízos para a saúde com um todo.
Além de muitos casos de ansiedade e depressão, outro distúrbio emocional que infelizmente vem afetando uma considerável parcela da população é a síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional.
Um levantamento feito pela International Stress Management Association (ISMA) mostra dados alarmantes que colocam o Brasil em segundo lugar na lista de países com mais casos de burnout, ficando atrás apenas do Japão, que tem 70% da sua população afetada.
Descrita pela primeira vez em 1974 pelo psicanalista alemão Herbert J. Freudenberger, a síndrome de burnout é um distúrbio psíquico desencadeado pelo excesso de trabalho, que leva o indivíduo a um estado de exaustão extrema.
Na época, o próprio médico notou alterações de humor, personalidade e atitude associados à exaustão profissional que vinha sofrendo. Isso porque cumpria longas jornadas de trabalho atendendo em uma clínica para dependentes químicos.
Mas, apenas em janeiro de 2022, quase cinco décadas após sua descoberta, é que a síndrome de burnout foi reconhecida como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo definida como um “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.
Riscos de burnout em graduandos de Odontologia
Apesar de receber o nome de síndrome do esgotamento profissional, burnout também pode se manifestar em indivíduos de outros grupos ocupacionais.
Estudantes da área da saúde, por exemplo, estão expostos a vários fatores no ambiente acadêmico que favorecem o surgimento da doença.
No caso da Odontologia, além de terem uma sobrecarga de estudos e aulas práticas, os graduandos também precisam realizar diversas atividades extracurriculares que incluem revisão dos conteúdos, realização de trabalhos acadêmicos e seminários, criação de planos de tratamentos de pacientes da clínica-escola, etc.
Assim, a árdua rotina acadêmica, somada ao excesso de autocobrança podem levar os universitários a sintomas típicos de burnout, como exaustão e esgotamento emocional, e a tendência é que isso aumente ao decorrer da graduação.
Em uma publicação realizada com universitários do curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), os resultados apontam que quase 11% dos estudantes pesquisados foram acometidos pela síndrome de burnout.
Outro estudo feito com estudantes da Faculdade de Odontologia de Araraquara (UNESP), detectou um número expressivo de alunos com a síndrome – cerca de 17% – e ainda observou uma relação significativa entre a doença e o desempenho dos estudantes, o uso de medicamentos durante os estudos e a possibilidade de desistir do curso.
Ainda que sejam poucos os estudos sobre a síndrome de burnout em graduandos de Odontologia, é importante que esse tema seja cada vez mais aprofundado.
Afinal, entender a prevalência da doença permite que ela seja detectada e tratada o quanto antes, para que estes estudantes não continuem sofrendo esses efeitos em suas vidas profissionais futuras.
Síndrome de burnout em cirurgiões-dentistas
Além de todos os riscos ocupacionais ao quais o cirurgião-dentista está exposto no ambiente odontológico, a prática clínica também exige longas jornadas de trabalho e um alto nível de concentração e responsabilidade na realização dos procedimentos.
Paralelo a isso, muitos profissionais desempenham demais funções, administrando seus próprios consultórios e/ou exercendo atividades docentes.
Diante de tantas tarefas e responsabilidades, é comum que exista uma sobrecarga de trabalho. Mas, é preciso, sobretudo, ficar atento aos sinais de esgotamento profissional e não os confundir com estresse e tensões comuns do dia a dia no consultório.
A síndrome de burnout surge a partir do momento que o cirurgião-dentista precisa de forma compulsiva demostrar seu valor, não consegue se desligar do trabalho e negligência as próprias necessidades pessoais.
Por isso, reavaliar e impor limites em relação à prática profissional é fundamental para se evitar chegar a um cenário de exaustão.
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Síndrome de burnout: sintomas
Os sintomas da síndrome do esgotamento profissional podem se manifestar de forma física, emocional e/ou comportamental. E as principais dimensões da doença incluem:
- Exaustão emocional – falta de energia e excessiva frustração em relação ao trabalho;
- Despersonalização – falta de sensibilidade emocional, apatia aos colegas e pacientes e desconexão entre corpo e mente;
- Baixa realização pessoal – autoavaliação negativa, insatisfação com seu desempenho profissional, sentimento de incapacidade e baixa autoestima.
Pessoas com síndrome de burnout também podem apresentar:
- Tristeza em excesso;
- Negatividade e pessimismo;
- Mudanças repentinas de humor;
- Dificuldade de concentração;
- Ansiedade;
- Depressão;
- Necessidade de isolamento.
Em relação às alterações físicas, a síndrome pode causar:
- Dores de cabeça frequentes;
- Cansaço;
- Palpitação;
- Pressão alta;
- Problemas gastrointestinais;
- Insônia;
- Dores musculares.
Os 12 Estágios do burnout
A fim de apresentar os estágios da doença, Freudenberger, pioneiro nos estudos sobre burnout, e Gail North, psicóloga norte-americana, elaboraram uma lista com 12 sintomas que costumam se manifestar em pessoas com a síndrome de burnout.
Neste caso, o profissional:
- Tem necessidade de demonstrar seu valor de forma compulsiva;
- Não consegue se desligar do trabalho;
- Negligencia suas necessidades pessoais, como tempo de lazer, alimentação e sono de qualidade;
- Foge de problemas e não aceita que seu comportamento está diferente. Neste momento sintomas físicos começam a aparecer;
- Reinterpreta valores pessoais e coloca em segundo plano a família, hobbies e lazer;
- É intolerante e passa a considerar o trabalho de colegas inferior ao seu;
- Se distancia de sua vida social, tornando-a quase inexistente;
- Mudanças de comportamento se tornam evidentes e são percebidas por colegas, familiares, etc.;
- Apresenta despersonalização, ou seja, não enxerga seu valor, nem das pessoas ao seu redor;
- Sente um vazio Interno e tenta compensá-lo com o consumo de drogas, álcool, etc.;
- Apresenta depressão e a sensação de vazio interior se torna constante;
- A síndrome de burnout e esgotamento se instala totalmente e há necessidade de ajuda profissional.
É importante salientar que não há uma ordem específica dos estágios e nem todas as pessoas apresentam todos os sintomas da lista.
Além disso, o desenvolvimento de síndrome de burnout não ocorre de uma hora para a outra, nesse sentido, a pessoa pode levar anos para atingir o grau máximo da doença.
Diagnóstico e tratamento da síndrome de burnout
Por ter sintomas muito semelhantes a outros distúrbios emocionais, muitas vezes o burnout pode ser confundido com ansiedade ou depressão.
Desse modo, apenas psicólogos ou psiquiatras — profissionais de saúde mental — podem diagnosticar a doença.
O diagnóstico se dá a partir da análise clínica, anamnese detalhada e histórico do paciente, sempre levando em conta o seu envolvimento com o ambiente de trabalho e sua profissão.
Estabelecido o diagnóstico, o tratamento para síndrome de burnout consiste, sobretudo, na realização de psicoterapia e, e alguns casos, uso de medicamentos antidepressivos.
Mudanças no estilo de vida e prática de atividades para alívio de estresse também são recomendadas.
Como evitar e prevenir o burnout na Odontologia
Buscar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é uma das melhores formas de prevenir o desenvolvimento da síndrome de burnout.
Para isso, tanto o cirurgião-dentista quanto o graduando de Odontologia podem rever seus hábitos, comportamentos e prioridades a fim de criar uma rotina mais saudável.
A seguir, veja algumas atividades simples, mas que fazem toda a diferença no dia a dia.
Tenha boas noites de sono
É bem comum que muitos profissionais e, principalmente, universitários, abdiquem do sono para estudar ou trabalhar, porém, respeitar as horas de sono – pelo menos 7 horas por noite – é essencial para manter a qualidade de vida.
Organize suas prioridades
Ter uma agenda organizada é um grande passo para evitar a sobrecarga de atividades. Por isso, liste todas as suas tarefas, incluindo hobbies, momentos de lazer e pausas para relaxar e organize sua agenda de uma forma que permita tempo de qualidade em cada tarefa, sem precisar se privar das atividades pessoais.
Se alimente de forma saudável
Se alimentando de forma adequada seu corpo receberá todos os nutrientes e vitaminas necessárias para se manter saudável, por isso, procure incluir em sua dieta frutas, vegetais e proteínas, evite pular refeições e priorize horários em sua agenda para alimentação.
Pratique exercícios regularmente
Fazer exercícios físicos traz diversos benefícios para a saúde. Além de aliviar a tensão muscular, a prática também favorece a produção de endorfina, hormônio que estimula a felicidade e o bem-estar. O ideal é realizar atividades físicas três vezes na semana, por pelo menos uma hora por dia.
Faça intervalos
As pausas são essenciais, principalmente no consultório odontológico, onde o cirurgião-dentista passa longos períodos de tempo em posições pouco ergonômicas. Aproveite o tempo entre os atendimentos para relaxar, se hidratar e alongar.
Busque atividades que relaxem o corpo e a mente
Meditação e yoga são algumas das atividades mais indicadas para que busca um equilíbrio entre corpo e mente. As práticas podem ser feitas em conjunto ou de forma individual. No caso da meditação, estudos mostram que apenas 10 minutos por dia já são capazes de reduzir os níveis de estresse.
Tenha uma rede de apoio
Um dos sintomas de burnout é o isolamento social, portanto, ter uma rede de apoio é fundamental ao passar por momentos de desmotivação e desânimo profissional. Converse com familiares, amigos ou pessoas em quem você confia. Falar sobre suas dificuldades e ser acolhido também é uma forma de cuidar da saúde mental.
Está claro que a síndrome de burnout é um distúrbio cada vez mais comum na odontologia e, caso não diagnosticada, pode trazer muitos impactos negativos à saúde física e emocional do cirurgião-dentista e universitários.
Aproveite para compartilhar esse conteúdo e conscientizar seus colegas de trabalho e futuros colegas de profissão sobre a importância dos cuidados com a saúde mental e alertá-los sobre os principais sinais de exaustão profissional.
Lembre-se: se preservar e conhecer seus limites é fundamental para uma vida profissional com bem-estar e qualidade!
Referências:
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