Página Inicial Especialidades Endodontia Conheça as principais técnicas de obturação endodôntica
Endodontia

Conheça as principais técnicas de obturação endodôntica

A busca pelo sucesso endodôntico inicia-se com um correto diagnóstico e planejamento do caso.

No entanto, o conhecimento anatômico e técnico das etapas protocolares também é indispensável para um bom prognóstico, obtenção da longevidade e manutenção dos elementos dentários na cavidade oral.

Ao mesmo tempo, sabe-se que um dos principais fatores de insucessos em tratamentos endodônticos é a persistência de infecção microbiana.

Para combatê-la é importante realizar uma correta desinfecção dos canais radiculares, além da manutenção da sanificação por meio do aprisionamento de microrganismos remanescentes e interrupção do suprimento de nutrientes para impedimento de uma recontaminação.

Essa condição é atingível ao realizar um protocolo de obturação que proporcione um selamento tridimensional.

Ao longo do texto, veja as principais técnicas que podem ser empregadas para obturação de canais radiculares a fim de alcançar os melhores resultados em sua prática endodôntica.

Objetivos da obturação endodôntica

A obturação em Endodontia visa o preenchimento tridimensional e hermético do canal radicular, prevenindo a infiltração de microrganismos e consequentemente, a recidiva de infecções periapicais.

Quais os objetivos da obturação endodôntica?

  • Selamento apical e coronal: prevenção de nova contaminação por fluidos e/ou microrganismos;
  • Preenchimento tridimensional: obturação de canais principais, colaterais e ramificações;
  • Preservação da estrutura dental: permite manutenção da integridade do elemento dental e da função mastigatória;
  • Prevenção de falhas endodônticas: diminui os riscos de lesões periapicais.

Uma obturação satisfatória começa com um bom preparo químico-mecânico que trará as condições favoráveis ao travamento do cone de guta-percha no milímetro final do comprimento de trabalho.

Dicas clínicas para o sucesso da obturação endodôntica

  • É fundamental o entendimento anatômico sobre as ramificações laterais presentes nos canais principais, pois estas constituem vias de comunicação com os tecidos perirradiculares;
  • Atualmente, preconiza-se que o comprimento real de trabalho deve ser similar ao de obturação, que é localizado exatamente no batente/stop/matriz apical previamente estabelecido, onde o cone deve ser inserido e travado – com discreta resistência de deslocamento;
  • O uso de substâncias quelantes como o EDTA é sugerido em busca da remoção da smear layer, que favorece a penetração do cimento obturador nos túbulos dentinários;
  • O sucesso do selamento lateral pode ser alcançado com o preenchimento fluído por meio de de cimentos endodônticos com boa capacidade biológica e cones de maior calibre (a partir do terço médio ou técnicas de condensação lateral).

Por fim, para um perfeito selamento e longevidade do procedimento, a restauração coronária deve ser realizada o mais breve possível.

Isso porque em contato com os fluidos orais o cimento endodôntico sofre solubilização, e os microorganismos encontram condições favoráveis à sua colonização (ou recolonização) alcançando os tecidos perirradiculares pelo forame apical e/ou por ramificações.

Objetivos da obturação. Acervo pessoal Dra. Letícia Freitas.

Etapas da obturação endodôntica

É importante lembrar que a obturação do canal radicular só deve ser realizada nas seguintes condições:

  • O canal radicular deve estar completamente instrumentado (se necessário as medicações intracanais devem ser utilizadas para uma maior desinfecção);
  • Ausência de sintomatologia dolorosa (espontânea, à percussão, e palpação);
  • Ausência de edema e/ou exsudatos (hemorrágicos ou purulentos).

Critérios de avaliação pré obturação

De fato, diferentes abordagens podem ser utilizadas, no entanto essa escolha deverá ser pautada na técnica de instrumentação prévia e no diâmetro anatômico do canal radicular, visando os selamentos apical, lateral e coronário.

Independentemente da técnica, a seleção de um cone que deverá alcançar o comprimento real de trabalho deve seguir os seguintes critérios de avaliação:

  1. Prova Visual
  • O cone selecionado é levado ao canal radicular até a profundidade máxima de penetração já pré-estabelecida, com o auxílio de uma pinça deve ser levemente marcado através de uma deformação na altura do ponto de referência;
  • Logo após removido do canal, é confirmado o comprimento correto com uma régua endodôntica calibradora.
Critérios de Avaliação das técnicas obturadoras. Acervo pessoal Dra. Letícia Freitas
  1. Prova Tátil
  • Avaliação realizada concomitante a prova visual;
  • Consiste em analisar o travamento da ponta do cone na constricção apical, quando ele alcançar o comprimento desejado;
  • Caso não ocorra esse travamento, o cone deve ser ajustado com uma régua calibradora ou substituído por um de maior calibre.
  1. Prova Radiográfica
  • Apenas após as etapas prévias é que uma radiografia periapical deverá ser realizada;
  • Avalia-se o comprimento atingido e só assim é possível partir para a etapa obturadora;
  • Importante salientar que o uso do localizador apical é recomendado e, em casos específicos, pode haver uma discreta mudança de local entre a saída foraminal e o vértice da raiz.

Controle clínico da obturação do canal radicular

Após a obturação do conduto radicular, é fundamental o dentista realizar os seguintes passos:

  1. Radiografia final: É de extrema importância conferir a qualidade da obturação.
  2. Selamento coronário: Realizar a restauração direta definitiva ou o selamento coronário utilizando material provisório e confeccionar o mais breve possível a restauração direta ou indireta, evitando infiltração.
  3. Registro no prontuário odontológico: Radiografias, anotações sobre técnica, materiais utilizados e tamanho do cone principal são importantes para referência futura e proteção legal.
  4. Acompanhamento clínico e radiográfico.

Reavaliação entre 6 e 12 meses (ou conforme as características do caso clínico), observando sinais de cicatrização apical ou persistência de lesão.

Técnicas de obturação endodôntica

Ao escolher a técnica de obturação, o dentista deve considerar a anatomia do canal radicular e a complexidade do caso clínico.

Como escolher a técnica de obturação endodôntica?

  1. Anatomia do canal
  • Canais ovais, canais irregulares e com istmos: utilizar técnicas de aquecimento da guta-percha ou híbridas;
  • Canais simples e retos: cone único ou condensação lateral, de acordo com a técnica de instrumentação do conduto.
  1. Necessidade de retratamento do canal radicular

Técnicas sem aquecimento do cone de guta-percha facilitam o retratamento endodôntico.

  1. Cimento endodôntico
  • É fundamental utilizar cimentos que tenham compatibilidade com a técnica selecionada;
  • No caso de técnicas térmicas, o cimento não deve alterar suas características ao ser aquecido.
  1. Habilidade do operador

A técnica escolhida deve corresponder à experiência clínica do profissional, para minimizar falhas e promover o sucesso do tratamento endodôntico.

Conheça as principais técnicas de obturação endodôntica:

I. Técnica de condensação lateral

  • É considerada uma técnica de obturação clássica;
  • Consiste na inserção sucessiva de cones auxiliares ou acessórios lateralmente a um cone principal adaptado no comprimento de trabalho.

Indicação clínica

  • Anatomia sem complexidade;
  • Canais retos;
  • Excelente opção para canais mais amplos, visto a necessidade de preenchimento de um maior espaço vazio.

Etapas da técnica de condensação lateral

  • Seleção do cone de gutapercha principal e acessórios;
  • Desinfecção dos cones com hipoclorito de sódio a 2,5%;
  • Remoção da smear layer e secagem do canal radicular;
  • Seleção de um espaçador digital para auxiliar a inserção dos cones acessórios;
  • Manipulação e inserção do cimento endodôntico;
  • Inserção do cone principal;
  • Compactação lateral — consiste na inserção individualmente de cada cone acessório até o preenchimento total do espaço vazio;
  • Radiografia da qualidade da obturação;
  • Corte dos cones por meio de instrumento calcador aquecido;
  • Compressão vertical final com o auxílio de instrumento calcador frio;
  • Limpeza da câmara pulpar;
  • Selamento ou restauração provisória;
  • Radiografia final.

Vantagens e desvantagens da técnica de condensação lateral:

Vantagens

  • Técnica econômica;
  • Simplicidade e previsibilidade;
  • Facilidade em casos retratamento endodôntico.

Desvantagens

  • Pode deixar espaços entre cones em canais irregulares ou ovalados;
  • Menor capacidade de preencher ramificações e istmos;
  • Resultados dependem do ajuste do cone principal;
  • Maior tempo de trabalho em comparação com técnicas térmicas no terço coronário.

II. Técnica de cone único ou condensação vertical

Diante da dificuldade técnica do preenchimento com múltiplos cones, principalmente em dentes posteriores, autores na década de 70 já preconizavam o uso de cones acessórios de maiores conicidades.

Com o advento de técnicas de preparo químico-mecânico utilizando sistemas rotatórios e reciprocantes, a técnica de cone único tem proporcionado mais agilidade aos tratamentos endodônticos.

Saiba mais sobre a técnica:

  • Segue a mesma lógica que a técnica de condensação vertical;
  • Os cones utilizados são específicos para a técnica;
  • Cone compatível à marca e sistema escolhido para instrumentação;
  • As irregularidades do canal radicular são preenchidas com cimento obturador.

Indicação clínica

Canais preparados com sistema rotatório ou reçiprocante.

Etapas da técnica de Cone único

  • Desinfecção do cone principal;
  • Remoção de smear layer e secagem do canal radicular;
  • Seleção do cone;
  • Manipulação do cimento obturador;
  • Inserção do cimento obturador no canal radicular e posicionamento do cone principal;
  • Corte do cone e condensação vertical;
  • Radiografia comprobatória;
  • Compressão vertical final;
  • Limpeza da câmara pulpar;
  • Selamento ou restauração provisória;
  • Radiografia final.
Cones compatíveis aos seus respectivos sistemas de Limas NiTi. Lima Protaper Dentsply Sirona / Lima Reciprocante Reciproc – VDW
Cones acessórios calibrados. Cones de Gutapercha Dentsply Sirona / Régua Endodôntica Milimetrada Calibradora MK Life

Vantagens e desvantagens da técnica de cone único:

Vantagens:

  • Simplicidade e rapidez;
  • Menor risco de extrusão de material plástico (quando bem controlada);
  • Compatibilidade com cimentos de última geração, que preenchem microespaços e promovem selamento químico.

Desvantagens

  • Limitações em canais com formato irregular ou muito dilacerado;
  • Não preenche bem istmos;
  • A qualidade do cimento é fundamental para evitar falhas a longo prazo.

III. Técnica híbrida de Tagger:

Combina aspectos da condensação lateral e termoplastificação do cone de guta-percha;

Após a condensação, são utilizados compactadores de MCSpadden para fazer a termoplastificação da guta-percha.

Promove a compactação adicional, por meio do calor gerado para melhorar o selamento do terço apical.

Indicação clínica

  • Canais com anatomia moderadamente complexa;
  • Canais curvos;
  • Presença de istmos e ramificações;
  • Presença de reabsorção interna.

Etapas da técnica híbrida de Tagger:

  • Seleção e desinfecção dos cones;
  • Remoção de smear layer e secagem do canal radicular;
  • Cimentação do cone principal;
  • Condensação lateral com cone secundário (geralmente 2 ou 3);
  • Radiografia periapical;
  • Uso do compactador de McSapdden de 2 a 3 numerações acima do diametro cirúrgico;
  • Velocidade do contra-ângulo: entre 8000 a 12000 RPM;
  • Trabalhar somente terço cervical e médio ou até a curvatura;
  • Limpeza da câmara pulpar;
  • Selamento ou restauração provisória;
  • Radiografia final.

Importante:

  • Os compactadores de MCSpadden são comercializados nos calibres de 25 a 140;
  • Não realizar movimentos de vai-e-vem;
  • Rotação sempre no sentido horário;
  • Usar o batente adequado.

Vantagens e desvantagens da técnica híbrida de Tagger

Vantagens

  • Tempo de trabalho;
  • Melhor adaptação em canais com curvatura leve e irregularidades moderadas;
  • Possibilidade de corrigir a obturação.

Exige habilidade para realizar a termoplastificação;

Desvantagens

  • Risco de aquecimento radicular;
  • Risco de fratura do compactador;
  • Ausência de batente apical.

IV. Técnica de onda contínua de compactação

Utiliza onda contínua de compactação (Continuous Wave of Condensation), realizando a compactação contínua da guta-percha ao longo do canal.

É feita a termoplastificação do cone de guta – percha no interior do conduto e em seguida a compactação vertical.

Indicação clínica:

  • Casos complexos;
  • Canais curvos;
  • Presença de ístimos;
  • Múltiplas ramificações.

Etapas da técnica de onda contínua de compactação

  • Seleção e desinfecção dos cones;
  • Remoção de smear layer e secagem do canal radicular;
  • Cimentação do cone;
  • Fase de Downpack;
  • Fase do Backpack ou Backfil;
  • Limpeza da câmara pulpar;
  • Selamento ou restauração provisória;
  • Radiografia final.

O diferencial da técnica é a realização de duas fases: a Fase de Downpack (coroa ápice) e a Fase do Backpack ou Backfill (ápice coroa):

  1. Fase de Dowpack
  • Um instrumento aquecido é inserido para plastificar a guta-percha, que é então imediatamente compactada verticalmente;
  • Preenche o canal radicular com guta-percha termoplastificada;
  • Esta etapa evita a extrusão excessiva de material para os tecidos periapicais e garante um selamento efeitivo.

Dicas clínicas:

  • Cortar a parte do cone em excesso na câmara pulpar com transportador de calor;
  • Escolher o compactador e compactar a guta-percha coronariamente na direção apical;
  • Realizar movimentos curtos e firmes para dentro do cone.
  1. Fase do Backpack ou Backfill
  • Após a fase de Downpackig, a guta-percha termoplastificada é novamente injetada no canal, preenchendo as áreas que não foram alcançadas na fase anterior;
  • Preenche os espaços remanescentes do canal radicular.

Dicas clínicas:

  • Após o downpack, o canal é será obturado de apical para coronal nos terços médio e coronário;
  • A guta-percha sofre contração após o aquecimento;
  • Realizar compactação vertical para compensar a contração.

Vantagens e desvantagens da técnica de onda contínua de compactação

Vantagens:

  • Redução do risco da formação de bolhas;
  • Excelente adaptação;
  • Preenchimento de canais acessórios.

Desvantagens:

  • Curva de aprendizado acentuada;
  • Exige equipamento específico;
  • Maior custo se comparada à outras técnicas.

A obturação é uma etapa que envolve conhecimento sobre a anatomia do canal radicular, conhecimento técnico e habilidade manual.

Por isso, o sucesso da Endodontia tem como terceiro e último pilar o preenchimento dos canais radiculares, visto que as etapas antecessoras não são capazes de eliminar completamente o conteúdo contaminado.

Desta forma, em busca da interrupção do processo infeccioso, manutenção da sanificação e estimulação do reparo perirradicular, é importante que o dentista esteja habilitado e alinhado as técnicas e conceitos sobre a obturação de canais radiculares e suas aplicações nos diferentes casos clínicos.

Para auxiliar os endodontistas em seus casos clínicos diários a Dental Speed, sua parceira na Odontologia, oferece uma ampla variedade de limas, materiais obturadores e acessórios para Endodontia.

Acesse o site e confira o portfólio completo!

Leia também:

Referências:

  1. MACHADO, Ricardo. Endodontia – Princípios Biológicos e Técnicos. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022. ISBN 9788527738491.
  2. Machado R, da Cunha MM, Comparin D, Cosme-Silva L, Engelke Back EDE, Roberti Garcia LDF. Incidence of periodontal compromise in teeth indicated for undergoing endodontic treatment: A clinical study. Eur J Dent. 2018;12:334-7
  3. Tartari T, Oda DF, Zancan RF, Silva TL da, Moraes IG de, Duarte MAH, Bramante CM. Mixture of alkaline tetrasodium EDTA with sodium hypochlorite promotes in vitro smear layer removal and organic matter dissolution during biomechanical preparation. Int Endod J. 2017;50:106-14
  4. Peters OA. Current challenges and concepts in the preparation of root canal systems: a review. J Endod. 2004;30:559-67
  5. Lopes RMV, Marins FC, Belladonna FG, Souza EM, De-Deus G, Lopes RT, Leal Silva EJN. Untouched canal areas and debris accumulation after root canal preparation with rotary and adaptive systems. Aust Endod J. 2017
Publicado por
Dra. Letícia Freitas Chaves

Dra. Letícia Freitas Chaves é cirurgião-dentista e no blog oferece dicas, novidades e insights para universitários e profissionais. Confira!

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  • Rating

Artigos relacionados

Endodontia

Endodontia: por que escolher essa especialidade?

Quer se especializar em endodontia? Entenda a importância dessa especialidade, como seguir...

Endodontia

Como fazer diagnóstico em endodontia e ter sucesso no tratamento endodôntico 

O diagnóstico irá conduzir a forma de tratamento mais adequada para cada...

EndodontiaEspecialidades

Saiba como otimizar o atendimento clínico utilizando o ultrassom odontológico

Saiba como utilizar o ultrassom odontológico além da Periodontia e otimizar seus...

Extração dentária: guia completo - Blog Dental Speed
Endodontia

Extração dentária: guia completo com dicas essenciais

A extração dentária, também designada exodontia, refere-se a técnica cirúrgica para a...